Isto permitirá que os peritos russos entendam melhor como operam os porta-helicópteros da OTAN. De fato, o Ministério da Defesa russo não descarta a hipótese de que a experiência desta colaboração seja tomada em consideração na hora de desenvolver navios similares.
"Ou seja, Moscou recebeu a documentação do Mistral a troco de nada ou, sendo mais precisos, por dinheiro de Cairo", assinalou o colunista da edição Svobodnaya Pressa.
Contudo, é provável que o principal benificiário seja o Egito, opina o autor. Depois da criação da Frota do Sul egípcia, Cairo se converterá em uma potência marítima regional e será capaz de proteger o enorme campo de gás recentemente descoberto perto de sua zona econômica exclusiva.
Sitnikov recordou que, em janeiro de 2017, o Egito anunciou a criação da sua Frota do Sul.
"A intervenção descarada dos Estados Unidos nos assuntos internos do Egito, através do apoio à chamada Primavera Árabe, se converteu em um balde de água fria para a maioria dos egípcios, que se deram conta que os americanos os estavam empurrando para o abismo", explicou o autor.
Para Sitnikov, é logico que Cairo prefira Paris e Moscou que, apesar da pressão por parte de Washington, conseguiu manter seus contatos de negócios.
"Como resultado, manifestando desobediência em relação aos EUA, a França recebeu contratos militares adicionais; a Rússia, obteve a documentação do Mistral e um novo aliado estratégico, enquanto o Egito se converteu em uma potência marítima", assegurou o analista.
Em 2014, a França construiu dois porta-helicópteros da classe Mistral para a Rússia. Entretanto, em agosto de 2015, o presidente francês decidiu cancelar o contrato com Moscou devido aos acontecimentos na Ucrânia.
A França devolveu à Rússia 949,7 milhões de euros do pré-pagamento pelos porta-helicópteros Mistral e lhe transferiu três processos tecnológicos chave, incluindo a construção de blocos de porta-helicópteros.
De acordo com o diário Le Monde, o custo da documentação do projeto obtido por Moscou foi de 220 milhões de euros.
Ao mesmo tempo, do ponto de vista formal, a França cumpriu todas as exigências de Washington em relação ao boicote contra Moscou, observou o autor.
Em consequência, Paris recuperou a reputação de um fornecedor de armas fiável, o que teve um impacto positivo no sistema francês de exportações militares, que conseguiu aumentar drasticamente seus volumes.