Em entrevista à Sputnik Brasil, Otonni comenta o estudo divulgado pela consultoria McKinsey que mostra que metade dos postos de trabalho no Brasil, ou cerca de 53,7 milhões, já poderiam ser substituídos hoje por alguma espécie de robô. A indústria, com 69% do total de postos, é o segmento onde a automação tem mais chances de crescer, seguida pelos ramos de hotelaria e alimentação (63%) e transporte e armazenamento (61%). Essa reestruturação de funções, segundo a consultoria, será tão importante quanto a promovida pela chamada revolução verde na agricultura, em meados do século passado.
"A automação é um fenômeno mundial. O processo de aprimoramento dos robôs está permitindo que eles ocupem cada vez um número maior de tarefas. No caso do Brasil, temos um grande número de tarefas que são levadas a cabo por trabalhadores menos qualificados, com um nível educacional mais baixo e que estariam mais sujeitos a esse tipo de substituição. Se queremos preservar postos de trabalho e entrar na economia do século 21, precisamos pensar em qualificar cada vez melhor nossa mão de obra", afirma Ottoni.
O estudo da McKinsey — feito em 54% países, representando 78% do mercado de trabalho mundial — revela que quase 60% das profissões em todo o mundo poderiam ter 30% de suas operações automatizadas, e que, entre 2036 e 2066, metade dessas substituições deverá estar concluída, afetando 1,2 bilhão de trabalhadores no planeta, com um ganho de produtividade de 0,8% a 1,4% no período. O problema, segundo muitos especialistas, é o custo social dessa substituição. No ano passado, o tema foi discutido no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, e as conclusões não foram animadoras: a automação pode causar o fechamento de 7,1 milhões de empregos no mundo até 2020, gerando apenas 2 milhões de novos postos de trabalho.
O pesquisador do Ibre-FGV, porém, vê um lado positivo na substituição, a necessidade de programas de qualificação da mão de obra, permitindo que mais pessoas possam deixar emprego de baixa qualificação para outros com maiores exigências e mais seguros em termos de empregabilidade. O economista também observa que a automação não é um processo recente. Segundo Ottoni, ele existe desde o início da revolução industrial e ela tem ajudado na medida em que a qualidade de vida da humanidade aumentou muito.
Para alcançar esse objetivo, o economista do Ibre-FGV ressalta a importância de se apoiar a criação de centros técnicos de excelência que possam capacitar esses novos trabalhadores. Ele diz que também é importante identificar quais serão as carreiras que terão maior demanda do ponto de vista da automação, assim como a avaliação desses programas de treinamento para identificar qual o tipo de sucesso que eles obtêm.