Qual foi 'o erro mais crasso' da política externa americana em relação à Rússia?

© AP Photo / Visar KryeziuParaquedista dos EUA, que faz parte da missão de paz da OTAN no Kosovo, maio de 2015
Paraquedista dos EUA, que faz parte da missão de paz da OTAN no Kosovo, maio de 2015 - Sputnik Brasil
Nos siga no
A intervenção no conflito do Kosovo e o reconhecimento da independência desta região, sem a aprovação por parte do Conselho de Segurança da ONU, se converteram em um dos maiores erros da política exterior dos EUA, opina um jornalista americano.

De acordo com o investigador do Instituto Cato e colunista da revista The National Interest, Ted Galen Carpenter, Washington criou um "precedente terrível" com a intervenção no conflito do Kosovo.

"Considerada como defensiva, a aliança dos EUA atacou um país que não tinha atacado seus membros, ignorou os protestos de Moscou e separou, com o uso da força, uma província de um Estado soberano", recorda o autor.

De acordo com Carpenter, a situação se complicou com as medidas tomadas pelos Estados Unidos e seus aliados nos princípios de 2008. As autoridades do Kosovo queriam declarar oficialmente sua independência, mas estava claro que a Rússia, e talvez a China, se oporiam a esta iniciativa.

Entretanto, Washington e a União Europeia "aprovaram sem vergonha" a declaração proposta por Pristina (capital do Kosovo) sem a participação do Conselho de Segurança da ONU.

Membros da Força da Segurança do Kosovo - Sputnik Brasil
Rússia: criação das forças armadas de Kosovo seria um ato de irresponsabilidade
O jornalista acredita que foi uma "medida muito controversa". Além disso, nem todos os países europeus apoiaram esta política temendo que teria consequências no futuro. Particularmente, a Espanha se preocupou com que a decisão reforçasse os sentimentos separatistas dos bascos e catalães, resume o artigo.

As autoridades russas se pronunciaram contra esta medida e advertiram que a ação não autorizada do Ocidente criaria um precedente perigoso e desestabilizador. Washington, por sua vez, não prestou atenção a estas reclamações e assegurou que o Kosovo era um "caso único".

"A falta de lógica e a arrogância desta postura foram impressionantes", reconhece o autor do artigo.

Vários meses mais tarde, os EUA e seus aliados acusaram Moscou de ser responsável pela guerra na Geórgia, embora a futura investigação da UE responsabilizasse principalmente Tbilisi pelo ocorrido, assinala o colunista.

Em agosto de 2008, o Exército da Geórgia iniciou uma ofensiva contra a república rebelde da Ossétia do Sul. A Rússia enviou tropas à região para proteger os residentes locais, muitos dos quais têm nacionalidade russa, e expulsou as tropas georgianas após 5 dias de hostilidades.

Bandeira da OTAN é queimada durante protestos na Rússia - Sputnik Brasil
Rand Paul: adesão da Ucrânia e da Geórgia à OTAN provocará uma guerra
No final do mesmo mês, Moscou reconheceu a independência da Ossétia do Sul e de outra república, a Abkházia, ao que Tbilisi respondeu com a ruptura das relações diplomáticas com a Rússia.

O conflito durou somente 5 dias, e depois o Kremlin deixou claro que as tropas russas seguiriam defendendo a autonomia da Ossétia do Sul e Abkházia, assinala Carpenter.
Parece óbvio o paralelismo na forma como a OTAN impediu que a Sérvia recuperasse o controle de Kosovo, opina o analista.

A então administração de Bush e a OTAN condenaram a "intervenção" e as seguintes ações do Kremlin na Geórgia. Mas, da mesma forma como a Rússia foi quase incapaz de influir na postura da OTAN no Kosovo, as potências ocidentais estavam em um ponto morto e a única coisa que poderiam ter feito, era declarar a guerra a Moscou, observa Carpenter.

Quanto à situação na Crimeia, Barack Obama declarou, com ar irritado, durante uma entrevista coletiva, que a Rússia não deveria se permitir "mudar as fronteiras da Europa sob ameaça das armas". Entretanto, ninguém dos jornalistas presentes perguntou ao então presidente dos EUA o que ele pensava sobre as ações da OTAN no Kosovo, sublinhou Carpenter.

Cabe mencionar que a Crimeia voltou a ser parte da Rússia após realizar, em março de 2014, um referendo no qual a maioria esmagadora dos votantes, mais de 96%, fizeram essa escolha. No Kosovo, o Parlamento declarou a independência unilateralmente.

Crimeia comemora a reunificação com a Rússia - Sputnik Brasil
Diplomacia russa: 'Tribunal da ONU rejeitou acusações de Kiev sobre 'ocupação' da Crimeia'
Entretanto, de acordo com o autor, a intervenção no Kosovo reforçou um movimento político "muito questionável", ou seja, o Exército de Libertação do Kosovo, que repetidas vezes violou os direitos humanos.

Através desta missão, a OTAN se tem transformado cada vez mais de uma aliança militar defensiva em um mecanismo para levar a cabo "cruzadas agressivas constituintes".

Washington seguiu desprezando o direito internacional perante a concessão da independência a uma entidade separatista sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU.

"No Kosovo, os EUA e seus aliados da OTAN envenenaram algo mais que as relações com a Rússia. Em todos os aspetos, a missão do Kosovo, encabeçada pelos EUA, foi míope e contraproducente", concluiu o jornalista.

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала