De acordo com o investigador do Instituto Cato e colunista da revista The National Interest, Ted Galen Carpenter, Washington criou um "precedente terrível" com a intervenção no conflito do Kosovo.
"Considerada como defensiva, a aliança dos EUA atacou um país que não tinha atacado seus membros, ignorou os protestos de Moscou e separou, com o uso da força, uma província de um Estado soberano", recorda o autor.
De acordo com Carpenter, a situação se complicou com as medidas tomadas pelos Estados Unidos e seus aliados nos princípios de 2008. As autoridades do Kosovo queriam declarar oficialmente sua independência, mas estava claro que a Rússia, e talvez a China, se oporiam a esta iniciativa.
Entretanto, Washington e a União Europeia "aprovaram sem vergonha" a declaração proposta por Pristina (capital do Kosovo) sem a participação do Conselho de Segurança da ONU.
As autoridades russas se pronunciaram contra esta medida e advertiram que a ação não autorizada do Ocidente criaria um precedente perigoso e desestabilizador. Washington, por sua vez, não prestou atenção a estas reclamações e assegurou que o Kosovo era um "caso único".
"A falta de lógica e a arrogância desta postura foram impressionantes", reconhece o autor do artigo.
Vários meses mais tarde, os EUA e seus aliados acusaram Moscou de ser responsável pela guerra na Geórgia, embora a futura investigação da UE responsabilizasse principalmente Tbilisi pelo ocorrido, assinala o colunista.
Em agosto de 2008, o Exército da Geórgia iniciou uma ofensiva contra a república rebelde da Ossétia do Sul. A Rússia enviou tropas à região para proteger os residentes locais, muitos dos quais têm nacionalidade russa, e expulsou as tropas georgianas após 5 dias de hostilidades.
O conflito durou somente 5 dias, e depois o Kremlin deixou claro que as tropas russas seguiriam defendendo a autonomia da Ossétia do Sul e Abkházia, assinala Carpenter.
Parece óbvio o paralelismo na forma como a OTAN impediu que a Sérvia recuperasse o controle de Kosovo, opina o analista.
A então administração de Bush e a OTAN condenaram a "intervenção" e as seguintes ações do Kremlin na Geórgia. Mas, da mesma forma como a Rússia foi quase incapaz de influir na postura da OTAN no Kosovo, as potências ocidentais estavam em um ponto morto e a única coisa que poderiam ter feito, era declarar a guerra a Moscou, observa Carpenter.
Quanto à situação na Crimeia, Barack Obama declarou, com ar irritado, durante uma entrevista coletiva, que a Rússia não deveria se permitir "mudar as fronteiras da Europa sob ameaça das armas". Entretanto, ninguém dos jornalistas presentes perguntou ao então presidente dos EUA o que ele pensava sobre as ações da OTAN no Kosovo, sublinhou Carpenter.
Cabe mencionar que a Crimeia voltou a ser parte da Rússia após realizar, em março de 2014, um referendo no qual a maioria esmagadora dos votantes, mais de 96%, fizeram essa escolha. No Kosovo, o Parlamento declarou a independência unilateralmente.
Através desta missão, a OTAN se tem transformado cada vez mais de uma aliança militar defensiva em um mecanismo para levar a cabo "cruzadas agressivas constituintes".
Washington seguiu desprezando o direito internacional perante a concessão da independência a uma entidade separatista sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU.
"No Kosovo, os EUA e seus aliados da OTAN envenenaram algo mais que as relações com a Rússia. Em todos os aspetos, a missão do Kosovo, encabeçada pelos EUA, foi míope e contraproducente", concluiu o jornalista.