"O fato é que hoje você tem, no Congresso Nacional, uma base de sustentação do governo em função da fragilidade do governo Temer, que já era também do governo da presidente Dilma, que coloca como moeda de troca para apoiar o governo a flexibilização do licenciamento, a regularização e a legalização de áreas que foram ocupadas ilegalmente por mais de 41 milhões de hectares. Cerca de 60% dessas áreas regularizadas foram para grandes proprietários que representam 6% dos proprietários."
"Então há, sim, um conflito de interesse", frisa Marina, explicando a importância universal do problema do licenciamento:
"Agora, é claro que o gestor público apoia ouvir todos os setores, mas ele precisa fazer uma política pública favorável ao interesse público e não apenas ouvindo e cumprindo as exigências de um único segmento, como estamos vendo hoje nesta agenda de querer flexibilizar o licenciamento."
Contudo, mesmo se a eliminação das consequências da catástrofe é "algo do interesse do Estado […] pelo fato de ser o poder público", "isso não elimina os impactos ambientais da obra porque é feita pelo Governo do Estado ou Governo Federal ou por uma prefeitura, bem como não diminui o impacto de uma obra que foi feita pelo empreendimento privado".
"Isso não retira os impactos. Só conseguem pensar em eleição, só conseguem pensar em projetos de poder", ressaltou.
O buraco do Brasil
Outro "grande problema" enfrentado pelo Brasil, segundo Marina Silva, "é que as pessoas associam um debate de ideias e uma apresentação de propostas a um período eleitoral e a uma candidatura".
"Isso levou o Brasil ao buraco", frisa a líder da Rede.
Ela falou isso ao ser questionada sobre o porquê de começar um debate sem anunciar candidatura para as eleições presidenciais. "Fazer esse debate independe de ser candidata ou não", ela destacou.
Política vs. sociedade
"As melhores propostas elas vêm da sociedade. Se você parar para pensar, a política de combate à fome ela não começou dentro do governo, ela começou com o programa Fome Zero. A política de Saúde Pública para todos, sistema gratuito único de saúde, começou com grupo de sanitaristas, de médicos, de movimentos sociais que iniciaram esse debate", exemplifica Marina Silva.
"A sociedade faz o debate, os partidos é que não fazem", frisou ela, explicando: "Porque são atrelados apenas a lógica da eleição pela eleição e do projeto de poder pelo o projeto de poder desprovido de qualquer debate".
Marina Silva se candidatou à presidência pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) nas eleições de 2014. Surgiu para substituir Eduardo Campos, político que morreu em um acidente aéreo. Ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 21,32% dos votos. Um pouco depois das eleições, ela continuou o seu trabalho de criação de um novo partido, que foi registrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 22 de setembro de 2015 como Rede Sustentabilidade.
Em breve, a Sputnik Brasil publicará outros trechos da entrevista com Marina Silva. Fique ligado!