O documento foi ratificado em setembro do ano passado pelo presidente Michel Temer e a assinatura foi anunciada em uma cerimônia em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, no Palácio do Planalto. Entre os compromissos assumidos pelo Brasil no acordo estão a redução de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005 até 2025 e aumentar a participação da bioenergia sustentável na matriz energética para cerca de 18% em 2030.
Em entrevista à Sputnik Brasil, David Zee, oceanógrafo, engenheiro ambiental e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que a retirada dos Estados Unidos do Acordo do Clima, apesar de criticada pela comunidade internacional, é um mau exemplo para os países, na medida em que pode enfraquecer os esforços nacionais para combater o aquecimento global. Em relação ao Brasil, ele prevê que o país terá dificuldade em cumprir as metas, que exigirão investimentos significativos, o que, hoje, é um grande desafio face à situação econômica do país.
"O que acontece hoje em dia é que ninguém quer pagar por serviços ambientais. Todo mundo quer ar puro, água limpa, e manda essa conta para a natureza, que já não aguenta mais com os 7,5 bilhões de pessoas no planeta, muito superior à capacidade da Terra sozinha fazer essa depuração", diz o especialista.
No Brasil, levantamento recente do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) mostra que só no ano passado 8 mil quilômetros quadrados da Floresta Amazônica foram derrubados, um aumento de 29% sobre 2015 devido à expansão das plantações de soja, da abertura de pasto para pecuária e da extração de madeira. À exceção de Mato Grosso, houve aumento do desmatamento em todos os estados da região, em especial no Amazonas, onde a derrubada de florestas cresceu 54% de 2015 a 2016. Em 16 anos, o Brasil perdeu cerca de 190 mil km² de florestas, área equivalente a quatro vezes a do Estado do Rio de Janeiro. A boa notícia é que a Mata Atlântica, que corria o risco de extinção, está se recuperando. Nos últimos 16 anos, ela cresceu uma área equivalente a da Bélgica (30.500 km²), com maior proporção no Estado do Rio (18%), São Paulo (13%) e Paraná (11%).
Outro índice, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mostra que o desmatamento no país, de agosto de 2015 a julho de 2016, foi de 7.989 km², 29% maior que o período anterior. A estimativa é de que essa destruição tenha liberado na atmosfera 586 milhões de toneladas de carbono equivalente, o mesmo que oito anos de emissões por todos os automóveis no Brasil. É a primeira vez em 12 anos que o desmatamento na maior floresta tropical do planeta apresenta aumento consecutivo.
Outro dado preocupante é a aprovação, no Congresso, de um novo Código Florestal, que anistiou aqueles que desmataram ilegalmente até 2008. Também no Congresso crescem as pressões da bancada ruralista para aprovação de um projeto autorizando a venda de terras para estrangeiros, o que já estaria estimulando a especulação fundiária, a grilagem e o aumento da violência no campo.
Para David Zee, tudo isso passa por uma falta de foco do Ministério das Relações Exteriores. Segundo ele, o Brasil, ao deixar a floresta em pé, está fazendo um benefício não só para o país, como também para o mundo, e isso tem um custo, por isso países como o Brasil e os da África deveriam ser recompensados com algum tipo de recurso por parte dos países ricos, que mais contribuem para o aquecimento global.
Zee dá como exemplo os países nórdicos, como a Noruega, o principal mantenedor estrangeiro do Fundo Amazônia, gerado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e que recentemente já advertiu o governo brasileiro que a doação de recursos pode ser suspensa se o governo não reverter o quadro de deterioração ambiental registrado no país nos últimos dois anos. Por fim, ele lembra que não basta manter a floresta em pé. É preciso criar viabilidade econômica para o seu manuseio.
"Não só o governo da Noruega pode fazer esse tipo de pressão, como o Brasil deve começar a desenvolver política internacionais onde faça o mundo ver que o Brasil também faz um grande esforço, mas para isso que tenha ajuda também", diz Zee, lembrando que das três últimas grandes conferências ambientais duas foram realizadas no país.
"Hoje, estamos olhando só para o nosso umbigo: a produção agrícola, que é necessária, mas também temos que ver o desenvolvimento de tecnologias de forma que seja mais eficiente a produção", diz o professor da UFRJ.