Enquanto uma mão segurava o cartaz, que resumia uma carreira brilhante – além dos 19 anos dedicados à UERJ, ele conta com mestrado pela Coppe/UFRJ, doutorado em Lyon (França), pós-doutorado, em Barcelona (Espanha) –, e na outra carregava um prato vazio.
“Essa foto foi um protesto após eu ver no jornal, na sexta-feira, que o estado não tinha como pagar o salário de abril. A título de brincadeira, postei essa foto na Internet e, para minha surpresa, tomou proporções inimagináveis”, afirma Pereira, em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil.
Fluente em três idiomas, o professor universitário não viu apenas a imagem ser muito curtida e compartilhada: ele contou com a solidariedade de pessoas de várias partes do país, o que ele revelou tê-lo deixado emocionado. Além de ofertas de emprego, recebeu muitas ideias do que fazer diante de tanta dificuldade.
“Recebi muitas ligações, desde dar aulas particulares, em outras universidades, até com pessoas pedindo por traduções em razão de eu falar outros idiomas, ou pedir a conta bancária para depositar alguma ajuda. Foi uma receptividade fora do comum”, destaca Pereira.
Calamidade e esperança
No final de maio, a 10ª Vara Federal do Rio de Janeiro concedeu liminar obrigando que o governo estadual a realizaro pagamento do salário dos professores e servidores da instituição, juntamente com os demais profissionais da área de Educação.
Mas mesmo com a determinação do juiz Alberto Nogueira Júnior, nem o pagamento do mês de abril foi realizado para os mais de 207 mil servidores do estado, que também não receberam o 13º salário e as férias. Entretanto, engana-se quem pensa que todas as dificuldades possam fazer com que o professor deixe a UERJ.
“A minha vida é a acadêmica. Optei por ela, tenho muito carinho e amor pelo que faço. Dou aula na minha área de mestrado e doutorado, mas os governantes precisam olahr com mais carinho para a nossa universidade, que é uma das melhores do Brasil. A situação é de calamidade, principalmente na área salarial”.
É exatamente isso que Pereira espera que tenha uma solução em breve. Enquanto contas são administradas dentro do possível em casa, o professor aguarda um desfecho positivo. E sem o que considerou “privilégios” a algumas categorias, que estariam recebendo mais atenção – e recursos – do que outras.
“Tem gente passando fome, então peço que as autoridades olhem a situação com carinho. Não entendo porque determinadas categorias recebem e nós não recebemos. Eles comem e nós não? Por que não dividir o bolo igual entre todos? Só quem passa por isso sabe como é difícil”, conclui.