O posicionamento de Chiquinho é comum entre as demais agremiações e surgiu após o anúncio feito pelo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), que anunciou um corte de 50% no aporte de recursos públicos às escolas do Grupo Especial do Carnaval da cidade.
Nos dois últimos anos, cada uma das 13 escolas de samba do Grupo Especial recebeu R$ 2 milhões anuais da prefeitura, em um total de R$ 26 milhões por ano. A proposta de Crivella é que, para 2018, cada agremiação receba apenas metade – R$ 1 milhão –, totalizando R$ 13 milhões.
A medida, de acordo com Crivella, visa reverter a outra metade até então gasta com o Carnaval na Sapucaí para dobrar o valor diário, de R$ 10 para R$ 20, com o gasto com cada uma das 12 mil crianças matriculadas nas 158 creches conveniadas com o município do Rio. Em tempos de crise, o prefeito diz que as escolas de samba precisam ajudar.
“São 12 mil crianças que hoje estão em creches conveniadas. O Rio paga percapito R$ 10 para cada criança. É preciso aumentar pelo menos para R$ 20. Isso tudo exige de nós austeridade e sacrifício. Todos precisam contribuir. A prefeitura está contribuindo, nós cortamos secretarias, cortamos mais de mil cargos políticos. O Carnaval precisa contribuir conosco, nos ajudar nesse esforço”, disse.
“Pior discurso”
Entretanto, Chiquinho da Mangueira não concorda com as alegações de Crivella para promover o corte de recursos. Ele revelou que o atual prefeito fez uma visita à Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) em 2016, quando era candidato, e prometeu melhorar as condições do Carnaval da cidade, e não diminuir os investimentos.
“Ele marcou uma reunião conosco anteontem (dia 11 de junho) e desmarcou. Ficou de amrcar para semana que vem. Quero ouvir isso dele. Não acredito nessa atitude. No período de campanha ele foi na Liesa e fez um discurso pela melhora das condições do Carnaval. Mesmo que a religião dele não participe do Carnaval, ele reconheceu que é a festa mais popular do mundo. Fico triste com essa declaração. Se isso se confirmar, a Mangueira não vai desfilar”.
Nesta quarta-feira, as 13 escolas de samba do Grupo Especial vão se reunir para discutir os planos de Crivella. A expectativa é fechar posição conjunta e buscar uma nova reunião com o prefeito, a fim de reverter a decisão. Para Chiquinho, dizer que vai investir dinheiro do Carnaval em chechês da cidade é “o pior discurso”.
“As crianças sobreviveram até hoje sem esse dinheiro [do Carnaval]. E o dinheiro para as creches tem que sair dos 12% do orçamento municipal, da ajuda do Ministério da Educação. Esse é o pior discurso e dá a entender que o prefeito quer jogar a opinião pública contra as escolas, tirando delas e dando para quem precisa”, avaliou.
Chiquinho disse acreditar ser injusto tirar recursos de uma festa que coloca o Rio de maneira positiva durante quatro dias ao ano, perante todo o planeta, empregando mais de 10 mil pessoas e produzindo uma grande arrecadação de recursos por parte da prefeitura.
“Como pode uma coisas dessas? A cidade tem o Carnaval há 100 anos e é a primeira vez que corremos o risco de ver essa tragédia. O Carnaval de 2018 pode não acontecer. Pode anotar o que eu estou falando”, comentou.
Crivella não se pronunciou após o indicativo deixado em aberto pelas escolas de samba do Grupo Especial.