Em entrevista à Sputnik Brasil, González comentou o novo impasse surgido em Cancún, no México, onde a OEA continua sem conseguir consenso entre os países-membros acerca de uma condenação ou sanção ao governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que enfrenta a maior onda de protestos, que já deixou um saldo de 74 mortos, centenas de feridos e de detenções.
Esta semana, nova reunião vai colocar à prova a coesão do grupo, nitidamente dividido em dois: de um lado, um grupo de 14 países liderados pelos Estados Unidos, México, Colômbia, Panamá, Brasil e Argentina, que cobram uma posição mais dura da OEA em relação à crise, e de outros países da Comunidade do Caribe (Caricom) e dos chamados bolivarianos (Bolívia, Equador, Nicarágua e El Salvador), que se opõe ao anúncio de medidas mais duras contra o país.
"Acho difícil neste momento que a OEA consiga ter um papel mais efetivo na solução da crise, uma vez que a exacerbação do conflito entre as forças políticas tornaram difícil que a mediação de algum grupo externo tenha sucesso. O que se está tentando é buscar um isolamento maior do governo Maduro para com isso forçá-lo a algum tipo de negociação com a oposição. Isso, ao contrário, tem feito com que Maduro subisse o tom em um discurso da existência de um inimigo externo que estaria atacando a independência venezuelana", diz o professor.
González chama a atenção para o fato de que não há um consenso dentro da própria OEA, como ficou evidenciado na última reunião, em 31 de maio, quando o Equador sugeriu que no próximo encontro da organização fosse abordada também a crise política no Brasil. A proposta, porém, foi rejeitada.
O coordenador dos programas de Ciências Sociais da UFRGS diz que essas pressões sobre a Venezuela se intensificaram, no plano externo, com a chegada de governos mais conservadores no Brasil e na Argentina, que até então se alinhavam melhor com a política de Maduro. Ele justifica o não alinhamento de países vizinhos à postura mais dura da OEA ao fato de que a Venezuela, como grande produtor mundial de petróleo, ajudou a economia desses países durante anos através de exportações subsidiadas.
Com relação às críticas de que a OEA adota dois pesos e duas medidas para analisar e julgar as crises na América Latina, González é enfático:
"Não é novidade o fato de que a OEA necessariamente não trata diferentes países pela mesma medida. Mesmo durante o longo período de ditaduras militares na América Latina, setores da OEA facilmente condenavam o governo de Cuba e aceitavam tranquilamente as violações de direitos humanos nas ditaduras aliadas aos Estados Unidos. Essa diferenciação é talvez um indicador do maior isolamento político da Venezuela entre os países de maior peso dentro da OEA, ao mesmo tempo em que o Brasil consegue blindar-se politicamente, aliando-se aos países de maior peso de importância política. Isso não significa que não possa haver uma reversão deste processo em um futuro de médio prazo", diz González.
Para conseguir uma posição sobre a Venezuela, a OEA precisa contar com o voto de 23 dos 34 países, inclusive o da própria Venezuela. O país já anunciou que vai se retirar do organização, mas confirmou que pretende participar do próximo encontro. Segundo vários analistas, o fiel da balança tende a ser cada vez mais o voto dos países caribenhos, que até agora não têm se mostrado inclinados em apoiar resoluções mais duras contra o governo de Maduro. Ambos os grupos (pró e contra) sublinham, porém, que é necessário que se estabeleça um mínimo de diálogo que ponha fim à escalada crescente de violência no país.