Os cálculos que mostram as perdas nos orçamentos de universidades e institutos federais, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pesquisa de Nível Superior, e do Ministério da Ciência e Tecnologia foram feitos pelo professor Carlos Frederico Leão Rocha, doutor em Economia pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o economista afirmou sem medo de errar que os setores que produzem conhecimento no país estão sendo sucateados, principalmente pela adoção de políticas governamentais que priorizam outros setores, em detrimento da ciência e da tecnologia.
“Gostamos de dizer que se alguém acha que a ciência é cara, experimente a doença […]. Em vez de entender a ciência como solução do problema, entendem como gasto e que vai acabar, que pode cortar. É conhecido na Economia que os países com maior PIB (Produto Interno Bruto) per capita são os com maior ciência e produção de conhecimento”, disse.
Segundo o economista, só neste ano já foram perdidos mais de R$ 4 bilhões em repasses, valor que representa uma queda de 50% em relação aos valores repassados no início de 2015. Para mostrar todos esses dados, Rocha idealizou o ‘Tesourômetro’, que é um painel eletrônico que informa minuto a minuto o tamanho dos cortes em ciência e tecnologia no país.
“Há um desprezo total. Recebemos um dos maiores cortes orçamentários e há características interessantes. A PEC 55, do teto dos gastos, não precisava ser uma emenda constitucional se não fosse para cortar gastos da educação e saúde. Você podia acabar com as desonerações, também entendidas como gastos. Mas tudo está sendo jogado fora, tanto a produção de conhecimento quanto a democratização do ensino superior no país”, lamentou.
Localizado no câmpus da UFRJ na Praia Vermelha, na Urca, na zona sul do Rio de Janeiro, o Tesourômetro exibe muitos números à sociedade brasileira e a expectativa é que se tenha noção, por meio de dados, sobre o quanto de regressão tais cortes poderão trazer. O professor arrisca a prever que o Brasil “voltará ao século XIX, quando só exportava produtos agrícolas”.
“Quando você paralisa a produção de conhecimento, você a deprecia e a torna antiga. Tivemos um desempenho exemplar na ciência e tecnologia nos últimos 20 anos, chegando a ter 3% da produção mundial de tecnologia e ciência, sendo líder ou vice em áreas importantes para o país, como nas doenças tropicais. Veja um exemplo: estamos perto de produzir uma vacina contra a dengue. Com esses cortes, vamos parar e alguém chegará na vacina. E teremos de comprar deles”, sentenciou Rocha.