Em entrevista à Sputnik Brasil, o cientista social Dário Sousa e Silva, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e do Instituto de Ciências Sociais, diz que populações de países que estão em longo período de estabilidade acomodam sua relação com a insegurança e também modulam suas expectativas. Segundo ele, pensar que o mundo se tornou mais violento reflete muito mais uma descrença nas instituições governamentais ou não que garantiriam a segurança.
"A frustração é o que é medido nesse tipo de pesquisa. Tem mais desilusão quem tinha mais expectativa, mais esperança. O brasileiro é naturalmente otimista, esperançoso. Quando a ONU começou, há alguns anos, a fazer pesquisas e testar modelos de índices de felicidade, o brasileiro aparecia sempre entre os primeiros, quando não em primeiro. Isso lá pelos anos 90, quando o desemprego já estava na casa dos 12%. Havia, porém, uma expectativa de que aquela seria uma situação transitória. O que segura a frustração das pessoas é a crença de que algumas regras vão colocar as coisas no eixo ou há regras para as quais se retornar", diz o cientista social.
Para Sousa e Silva, quando as pessoas têm desilusão quanto às instituições que garantiriam as regras ou em relação às próprias regras, há a ideia de que as coisas ficaram mais perigosas. Além disso, ele observa que as pessoas geralmente não têm uma memória de longo alcance retrospectivo, respondendo em relação à violência e insegurança muito baseadas em suas experiências imediatas.
"As generosas lições de desconfiança institucional que o Brasil tem vivido interferem muito nessas respostas." O professor discorda, porém, da tese de que a divulgação massiva de notícias sobre atentados terroristas contribui para aumentar esse sentimento de desalento mundial. Segundo ele, países que sabem que são alvo de atentados ou estão na lista anunciada do terrorismo não apareceram como os mais pessimistas.
Na contramão, os países menos pessimistas, segundo a pesquisa da Ipsos, que tem margem de erro de 3,5%, foram China, Suécia e Rússia. Para os autores da enquete, o crescente linchamento pelas redes sociais, a falta de confiança em leis e instituições e o noticiário crescente de atentados terroristas também podem ter influenciado a opinião dos entrevistados. Os países ouvidos na enquete, além do Brasil, foram África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Canadá, China, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Hungria, Índia, Itália, Japão, México, Nova Zelândia, Peru, Polônia, Rússia, Sérvia, Suécia e Turquia.