Em seu artigo para a revista The National Interest, o autor enumera as circunstâncias que aceleram o conflito em grande escala entre Teerã e Washington. Pillar destaca que alguns destes aspectos foram relevantes durante muito tempo, enquanto outros são mais recentes.
Em primeiro lugar, o autor destaca o "anti-iranismo" no discurso norte-americano. As frases mais frequentes na mídia dos EUA sobre o Irã são "autocracia teocrática", "maior patrocinador do terrorismo" e "elemento desestabilizador", indica Pillar.
"A reprovação se tornou um substituto do pensamento e de qualquer análise cuidadosa do que está e não está fazendo o Irã", escreve analista.
Pillar prossegue que existem várias razões para manter o Irã em isolamento. Um dos principais instigadores é o governo direitista de Israel, que procura paralisar o seu principal concorrente na região, Teerã. Além disso, Tel Aviv tenta manter Washington a seu lado, se impondo como seu "único parceiro regional de confiança".
Outro aspecto é o Plano de Ação Conjunto Global (PACG), que restringe severamente o programa nuclear do Irã e fecha qualquer caminho para o desenvolvimento de uma arma nuclear.
Não obstante, este acordo pode ter sido a maior realização de Barack Obama na política externa. O atual presidente dos EUA, Donald Trump, por sua vez, continua mostrando uma forte inclinação para fazer o contrário do que fez Obama.
"Agora que os esforços do Partido Republicano para desfazer a maior realização nacional de Obama [o Obamacare] esbarrou na realidade da assistência médica, o desejo de destruir a sua maior realização na política externa pode ser ainda mais forte", continua o autor.
O desejo de derrubar governos legítimos é mais um "ponto fraco" de Washington, frisa o analista.
O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, afirmou recentemente que "a mudança de governo faz parte da política norte-americana em relação Irã".
Pillar pressupõe que a derrota do Daesh, grupo terrorista proibido na Rússia e outros países, se está aproximando do fim. Portanto, há que abordar diretamente o problema do futuro do território sírio ocupado atualmente por islamitas.
Desta forma, Washington defende uma "expansão significativa dos objetivos dos EUA na Síria enfrentando o regime de Damasco e seus aliados russos e iranianos".
Os EUA já levaram a cabo vários ataques contra as posições das tropas governamentais na Síria, incluindo derrubadas de drones iranianos e de um avião tripulado sírio.
"Devido ao importante papel do Irã lá […] a Síria é um dos lugares mais propensos para acontecer uma guerra direta entre os EUA e o Irã ", enfatiza o autor.
As tensões entre a Arábia Saudita e Irã são especialmente altas agora, o que se deve, principalmente, às tentativas da parte saudita, continua Pillar.
Assim, é altamente provável que os EUA possam ser arrasados para uma escalada de tensão na região, especialmente se se tiver em conta que Trump demonstrou seu apoio aos sauditas.
Segundo o autor, as "qualidades pessoais" de Donald Trump o convertem em um "candidato ideal para recorrer à tática consagrada de usar um conflito no estrangeiro para desviar a atenção dos problemas internos e para ganhar apoio popular".
"Resta esperar que haja suficientes reflexões sobre estas consequências para impedir que ocorra um conflito armado", conclui Pillar.