O que pode levar a uma guerra entre EUA e Irã?

© AFP 2023 / ISNA / Amin KhoroshahiMilitares iranianos se preparam para lançar um míssil Hawk de classe terra-ar durante exercícios militares
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Uma combinação de circunstâncias aumentou o risco de um conflito armado entre o Irã e os EUA. Atualmente, a possibilidade de que tenha lugar uma guerra entre as duas potências é maior do que tem sido durante décadas, escreve o especialista em segurança Paul R. Pillar.

Em seu artigo para a revista The National Interest, o autor enumera as circunstâncias que aceleram o conflito em grande escala entre Teerã e Washington. Pillar destaca que alguns destes aspectos foram relevantes durante muito tempo, enquanto outros são mais recentes.

Em primeiro lugar, o autor destaca o "anti-iranismo" no discurso norte-americano. As frases mais frequentes na mídia dos EUA sobre o Irã são "autocracia teocrática", "maior patrocinador do terrorismo" e "elemento desestabilizador", indica Pillar.

"A reprovação se tornou um substituto do pensamento e de qualquer análise cuidadosa do que está e não está fazendo o Irã", escreve analista.

Pillar prossegue que existem várias razões para manter o Irã em isolamento. Um dos principais instigadores é o governo direitista de Israel, que procura paralisar o seu principal concorrente na região, Teerã. Além disso, Tel Aviv tenta manter Washington a seu lado, se impondo como seu "único parceiro regional de confiança".

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"Dado o óbvio efeito que as preferências do governo israelense têm sobre as políticas norte-americanas, este fator pesa muito nas decisões da administração atual sobre o Irã", opina Pillar.

Outro aspecto é o Plano de Ação Conjunto Global (PACG), que restringe severamente o programa nuclear do Irã e fecha qualquer caminho para o desenvolvimento de uma arma nuclear.

Não obstante, este acordo pode ter sido a maior realização de Barack Obama na política externa. O atual presidente dos EUA, Donald Trump, por sua vez, continua mostrando uma forte inclinação para fazer o contrário do que fez Obama.

"Agora que os esforços do Partido Republicano para desfazer a maior realização nacional de Obama [o Obamacare] esbarrou na realidade da assistência médica, o desejo de destruir a sua maior realização na política externa pode ser ainda mais forte", continua o autor.

O desejo de derrubar governos legítimos é mais um "ponto fraco" de Washington, frisa o analista.

O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, afirmou recentemente que "a mudança de governo faz parte da política norte-americana em relação Irã".

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De acordo com Pillar, este comentário é especialmente importante no âmbito do "monte de lixo na história da política externa dos EUA", sobretudo "devido aos resultados desastrosos" das tentativas de Washington para mudar os governos no Iraque e na Líbia. Não obstante, no Irã não existe um movimento político que "espera ser libertado do jugo dos autocratas teocráticos através de uma nova revolução".

Pillar pressupõe que a derrota do Daesh, grupo terrorista proibido na Rússia e outros países, se está aproximando do fim. Portanto, há que abordar diretamente o problema do futuro do território sírio ocupado atualmente por islamitas.

Desta forma, Washington defende uma "expansão significativa dos objetivos dos EUA na Síria enfrentando o regime de Damasco e seus aliados russos e iranianos".

Os EUA já levaram a cabo vários ataques contra as posições das tropas governamentais na Síria, incluindo derrubadas de drones iranianos e de um avião tripulado sírio.

"Devido ao importante papel do Irã lá […] a Síria é um dos lugares mais propensos para acontecer uma guerra direta entre os EUA e o Irã ", enfatiza o autor.

As tensões entre a Arábia Saudita e Irã são especialmente altas agora, o que se deve, principalmente, às tentativas da parte saudita, continua Pillar.

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A situação também tem que ver com a ascensão ao poder do "inexperiente filho do rei", Mohamed bin Salman. O príncipe já declarou que seu país "irá trabalhar para que a guerra se desloque para o Irã". Além disso, um de seus passos mais desestabilizadores foi a "fratura do Conselho de Cooperação do Golfo", destinado a atacar o Qatar, cujo "crime" é "ter relações mais ou menos normais e pacíficas com o Irã".

Assim, é altamente provável que os EUA possam ser arrasados para uma escalada de tensão na região, especialmente se se tiver em conta que Trump demonstrou seu apoio aos sauditas.

Segundo o autor, as "qualidades pessoais" de Donald Trump o convertem em um "candidato ideal para recorrer à tática consagrada de usar um conflito no estrangeiro para desviar a atenção dos problemas internos e para ganhar apoio popular".

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No entanto, um conflito armado com o Irã seria um "acontecimento muito negativo para os interesses dos EUA". As consequências incluem um "presente para os elementos mais duros da política iraniana", que poderia levá-los a "renunciar ao acordo nuclear e abrir um caminho para a obtenção de uma arma nuclear".

"Resta esperar que haja suficientes reflexões sobre estas consequências para impedir que ocorra um conflito armado", conclui Pillar.

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