A estimativa consta do relatório "Perspectivas Agrícolas 2017-2016", que aponta um crescimento da produção brasileira de 2,6% por ano, bem acima da americana (1%) e mesmo da argentina (2,1%) e bem acima da previsão de aumento da produção mundial de 1,9% esperada para o período. Caso as projeções se confirmem, em 2026 Brasil e EUA vão responder por 80% das exportações mundiais da commodity.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o diretor da Aprosoja Brasil, Fabrício Rosa, explica que os EUA têm uma área agricultável muito maior que a do Brasil, embora lá a cultura mais importante seja a do milho, vindo a soja como uma cultura complementar. Tecnicamente, segundo ele, os produtores americanos têm condições de aumentar a área plantada tanto de uma quanto de outra cultura, dependendo dos preços do mercado. O Brasil é hoje o maior exportador de soja, embora a liderança da produção ainda permaneça com os EUA. Tomando como base os resultados dos últimos anos, no entanto, a Aprosoja Brasil espera um crescimento um pouco menor do que o projetado pela OCDE e FAO.
"Desde 1995, vimos um ciclo de crescimento das commodities que teve seu pico em 2011, quando se entrou num processo de queda. As commodities hoje estão em um processo de inversão de queda de preços. Em função disso, as margens dos produtores têm também se reduzido. Eles ganharam muito dinheiro nos últimos anos, porém nas duas últimas safras vimos essas margens serem espremidas. Baixando preços, a tendência é que oferta também deve baixar", diz Rosa.
O diretor da Aprosoja Brasil cita um outro elemento que certamente vai ter impacto na produção da soja: a consolidação da legislação federal sobre o meio ambiente, o novo Código Florestal. Se o produtor abrir mais área em sua propriedade do que previa o Código Florestal, ele terá que registrar esse aumento no Cadastro Ambiental Rural (CAR), indicando que terá que entrar em um programa de regularização, que prevê que uma parte da área hoje utilizada na produção seja destinada à regeneração, ou seja, ficar sem plantio. Segundo Rosa, as estimativas variam que essas áreas de regeneração vão variar entre 40 e 60 milhões de hectares, maiores que a área plantada de soja hoje, de 34 milhões de hectares. A associação prevê que esse impacto virá nos próximos anos.
Rosa observa que há um mercado internacional demandante dessas commodities junto com sociedade brasileira que pressionam os produtores a não plantarem em qualquer área como na Amazônia. Lá, o Código Florestal permite a abertura de 20% de área de propriedade com a preservação dos outros 80% de área nativa, mas a pressão social é que nem esses 20% sejam plantados. Segundo ele, foi feita uma moratória na região, e os últimos relatórios concluíram que a soja não era um vetor relevante pelo desmatamento, não havendo nem 1% de soja plantada na região.
"Hoje existe uma pressão no Cerrado feita por ONGs, Ministério do Meio Ambiente e a própria indústria processadora por uma moratória no Cerrado. Isso significa que, eventualmente, podemos ser limitados na área plantada e na produção na região brasileira que hoje teria o maior potencial para seguir crescendo."
Com relação ao uso de tecnologia, como estratégia para aumento da produtividade, como o uso de variantes transgênicas, o diretor da Aprosoja Brasil fala sobre esse emprego.
"Na verdade, o que aconteceu é que a produtividade de soja vinha caindo em função da proliferação de ervas daninhas e de mato que competem por nutrientes com a soja. Outros países vivenciavam essa dificuldade, como Estados Unidos e Argentina, onde foi introduzida a soja transgênica porque ela é tolerante ao herbicida glifosato. Você não ganhou produtividade, você recuperou a produtividade. Isso entrou no Rio Grande do Sul na década de 90, foi regularizado no Brasil em 2005 e levou dez anos para maturação desse mercado. Hoje no Brasil mais da metade da soja é resistente ao herbicida glifosato. Recentemente entrou a soja BT, resistente a insetos, especificamente lagartas", explica Rosa.