Em Manágua estão presentes mais de 100 partidos políticos de esquerda de 26 países latino-americanos. Eles discutem a contraofensiva neoliberal, o processo de paz na Colômbia, a crise institucional da Venezuela e a condenação de Lula.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o filósofo e cientista político Emir Sader, coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), analisa os temas da pauta do Foro de São Paulo.
Sobre a onda neoliberal que toma conta de vários países sul-americanos, como Brasil e Argentina, Emir Sader observa:
"Eu acho que a situação de países como Brasil e Argentina, que tentam retomar o modelo neoliberal, demonstra sua fragilidade. Não há nenhuma adequação para a retomada pura e simples do mesmo modelo rígido aplicado nos anos 80 e 90 e que já naquela época havia fracassado. Este modelo está demonstrando sua incapacidade para retomar o crescimento econômico, bem como o de manter as conquistas sociais e, assim, ter legitimidade e apoio. O desgaste do Governo [Mauricio] Macri na Argentina é evidente, e o desgaste do Governo [Michel Temer] no Brasil é mais ainda."
Em relação ao processo de paz na Colômbia, envolvendo as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Emir Sader aponta restrições:
Já a Venezuela, com sua crescente tensão entre o Presidente Nicolás Maduro e os partidos de oposição, merece toda atenção por parte da comunidade internacional, diz o cientista político.
"Hoje, não se vê horizonte na Venezuela", afirma Emir Sader. "A situação é de enfrentamento muito aberto, e as iniciativas do Governo são rejeitadas pela oposição da mesma forma como as iniciativas da oposição são rejeitadas pelo Governo. Então, não se vê horizonte para solução pacífica. Hoje, eu não vejo que solução se poderia dar a estas questões para se ter algum tipo de acordo."
Em relação ao documento que deverá ser divulgado ao final do 23.º Encontro do Foro de São Paulo, Sader aponta os itens que gostaria de ver realçados:
"As prioridades devem ser a integração regional e o intercâmbio sul-sul ao invés de se tratar do livre comércio com os Estados Unidos; outra prioridade deve ser as políticas sociais e não o ajuste fiscal; o resgate do Estado como agente ativo para garantir não só o crescimento econômico mas, principalmente, os direitos sociais, além da democratização dos meios de comunicação social."