Várias noivas e esposas que desejavam fazer parte do "califado" fundado pelo grupo terrorista islâmico em Mossul, no Iraque, apresentou uma história semelhante quando a idealização encontrou a realidade – muito diferente e, por vezes, recheada de muita violência e excessos.
Uma dessas esposas do califado é Saida, que saiu de Montpellier (França) para seguir em direção a Raqqa, na Síria. A sua ideia era recomeçar a vida ao lado de um homem devoto, mas o que encontrou foi algo inesperado: teve de ficar em uma "madafa" — quarto para mulheres, onde teve de responder a um questionário que, por sua vez, a levaria a ganhar um marido.
"[Ali cada mulher] prepara uma espécie de currículo, escreve a sua idade, seu nome, como é a sua personalidade e o que busca em um homem. Eles fazem o mesmo. Aí nos reúnem, conversamos por uns 15 ou 20 minutos e, estando ambos de acordo, casamos. É rápido", relembrou Saida.
Ela perdeu o marido e, desiludida, gostaria de voltar à sua antiga vida na França.
A saudade do passado acompanha outras jovens atraídas por sonhos desfeitos. May, uma professora de inglês oriunda de Homs, na Síria, buscava o amor quando desembarcou em Raqqa. Seu primeiro marido foi assassinado e, quando conheceu um militante marroquino (pacifista, que não queria se envolver com armas), ele acabou preso.
"Elas [mulheres europeias] veem os europeus que estão no Daesh como homens fortes, armados e que podem protegê-las. É como nos filmes”, relembrou. Mas a realidade é outra: "Muitas acabam se divorciando em alguns dias ou em um mês."
A própria May conheceu uma mulher que se divorciou nada mais do que seis vezes ao integrar-se ao califado. Entretanto, a mesma esposa correu o risco de acabar presa ou torturada por isso, comentou a professora.
Somente sexo
Maior foi a decepção das indonésias Rahma, Fina e Noor, que gastaram muito dinheiro para encontrar o amor ao se integrarem ao Daesh. A ideia de se casar com "muçulmanos puros" e contar com assistência sanitária gratuita e educação logo foi desfeita.
"Dizem que fazem a jihad pelo bem de Alá, mas só querem mulheres e sexo: é asqueroso", afirmou Rahma.
Já Noor disse se surpreender com as brigas que testemunhou nos alojamentos femininos. "A atitude das mulheres dentro dos quartos é muito diferente, está muito distante do Islã", comentou. "Há uma atitude hostil, gritos e lutas", completou.
Quando não há casamento, corre-se o risco de uma mulher terminar como escrava sexual de um terrorista do Daesh, podendo ser vendida inúmeras vezes enquanto parte do cárcere do califado.