“Todo mundo sabe que os americanos patrocinam o [Daesh]. O governo dos Estados Unidos exploraram a Arábia Saudita para vender armamentos para a região. O dinheiro gasto para essa compra não é de um único país, mas de todos que moram ali. Há um ladrão pior do que esse, que ainda mata?”, afirmou.
Nascido no Iraque, o clérigo é um dos 88 membros da Assembleia dos Especialistas do Irã, instância responsável por indicar o líder supremo iraniano – posto ocupado pelo aiatolá Ali Khamenei desde 1989. Ele foi convidado para participar do evento “Os muçulmanos e o enfrentamento ao terrorismo e ao radicalismo”, organizado pelo Centro Islâmico no Brasil e que aconteceu neste sábado em um hotel na zona norte de São Paulo.
O discurso de Araki foi fortemente antiamericano, no qual o religioso destacou que a política externa norte-americana é um dos elementos de desestabilização do Oriente Médio há décadas – o próprio país natal dele, o Iraque, teve uma “discórdia implantada” entre xiitas e sunitas pela Casa Branca, segundo ele.
“Ninguém atacou os Estados Unidos, mas toda guerra tem dedo americano. Neutralizem os Estados Unidos e vejam como chega a paz. Todos os problemas podem ser resolvidos, se os americanos não interferirem. Até com a Coreia do Norte. O Brasil é um exemplo na defesa da liberdade religiosa”, avaliou, em declarações reproduzidas pelo jornal O Globo.
Ainda falando sobre desafetos, Araki criticou as monarquias sunitas do Oriente Médio, lideradas pela Arábia Saudita, as quais teriam influência nas atuais crises sírias e qatariana. “Os dirigentes do golfo [Pérsico] viram a paz na Síria, tiveram inveja e a tiraram deles”, comentou, de acordo com declarações reproduzidas pelo jornal Folha de S. Paulo.
Falando sobre Damasco, o aiatolá do Irã aproveitou o evento para fazer uma forte defesa do governo de Bashar Assad na Síria – país apoiado por Teerã. “Divergimos em alguns pontos, mas sabemos que o povo sírio precisa de um governo que os proteja. Antes eles viviam em paz”.
Polêmica com Israel
A vinda de Mohsen Araki ao Brasil gerou fortes reações da comunidade judaica do país. Em razão de declarações dadas no passado, o clérigo do Irã é tido como um defensor da destruição do Estado de Israel.
Em sua defesa, o aiatolá afirma sempre que possível que suas afirmações foram tiradas de contexto. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele falou sobre uma reunião no Líbano, com o clérigo libanês sheik Mohammed Yazbek, na qual Araki disse que “a aniquilação do sionismo é uma certeza e uma promessa corânica”.
Na opinião do religioso islâmico, as suas falas tem um caráter “profético”, baseado do que diz o Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos.
“Em todos os livros sagrados, existem profecias. Na própria Torá, há a profecia de um Estado Judeu. Muitas civilizações nascem e são extintas: o Império Otomano, a União Soviética […]. Nós temos no Alcorão sagrado um versículo que haverá dois Estados para os judeus: o primeiro vai ser fundado e extinto. O segundo, com mais força, existirá e será extinto novamente. Isso bate com alguns versículos até mesmo da Torá: o último Estado dos judeus será extinto pela chegada do Messias. Não é crime citar o livro sagrado”, disse ao jornal.
No evento em SP neste sábado, Araki chamou de “terrorismo” a recente medida israelense de colocar detectores de metais na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, o que resultou em vários episódios de violência e várias mortes, tanto de palestinos quanto de israelenses.