Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, João Paulo Oliveira, especialista em blockchain e sócio da Foxbit, uma das maiores operadoras com bitcoin no Brasil, explica as mudanças e o mercado no país, que conquista a cada dia mais e mais clientes, embora ainda esteja longe do nível das negociações de outros mercados como Estados Unidos e Rússia, que contam com milhares de investidores nesse tipo de negócio.
Oliveira diz que uma parte dos usuários passa a partir de agora a reconhecer uma tecnologia inovadora que permite uma transação sem intermediários. O sistema permite que uma pessoa envie dinheiro diretamente para outra sem a necessidade da intermediação de um banco ou uma instituição financeira. O sócio da Foxbit diz que, para que essa tecnologia de consenso distribuído funcione, todos os participantes da rede têm que concordar com as mesmas regras. Uma é de que cada bloco do bitcoin, conjunto de transações ocorrida no espaço de dez minutos, tenha um limite máximo de um megabyte. Parte dos usuários entende que esse limite é muito pouco e resolveu aumentá-lo para oito megabytes, do que resultou na criação de uma rede paralela. Por isso se fala que agora há duas versões do bitcoin.
"Mais de 99% da rede bitcoin estão acompanhando e menos de 1% está nessa mudança de compatibilidade, o aumento para oito megas. Não acredito que essa divisão tenha impacto em preço. Na prática, quem tem bitcoin automaticamente também tem essa nova moeda que vai se chamar bitcoin cash", diz Oliveira, observando que um bitcoin está sendo negociado na Foxbit por US$ 2.700 ou R$ 9.100.
O sócio da empresa explica que o bitcoin não tem um lastro tradicional que possa ser convertido em bens ou serviços do mundo real, embora algumas empresas no mundo aceitem o pagamento dessa espécie, como em compras na internet, por exemplo. Segundo ele, o bitcoin surgiu como uma alternativa de investimento, se constituindo num ativo financeiro sem lastro justamente por abrir mão de intermediários. Há também a possibilidade de carregar com bitocins alguns cartões de débito. No Brasil, a grande vantagem é que o uso desses cartões está isento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Oliveira lembra, contudo, que, por ser uma aplicação, as transações com bitcoins devem ser informada à Receita Federal e eventuais lucros devem ser informados e tributados como ganho de capital com uma alíquota de 15%.
"A tecnologia criada pelo bitcoin garante que só posssa haver, no máximo, 21 milhões de unidades. O bitcoin é uma espécie de comoddity que pela primeira vez no mundo digital consegue criar o conceito de escassez. Existe uma série de regras de consenso através de algoritmos matemáticos e criptografia que garantem que isso é imburlável", diz Oliveira
Adepto do bitcoin, o investidor Alexander Novarro aponta diversas vantagens nesse negócio que ele classifica de revolucionário, por poder ser utilizado em qualquer parte do mundo, conseguir um cartão de débito, abastecer de bitcoins deixando a operadora do cartão cuidar sozinha dessas transações. Novarro diz que já comprou bitcoins diretamente de pessoas físicas e jurídicas, mas acredita que o meio mais seguro é através de corretoras que cobram, em média, taxa de administração de 0,15% a 0,3% mesmo para pequenos volumes. Ele diz que investe há dois anos, ainda não deu para fazer um pé de meia, mas está chegando lá.
"No início eu usava o bitcoin para comprar coisas num site americano e não aproveitava o bitcoin como investimento. Comecei a investir mesmo do meio do ano passado e nesse um ano variou muito (a cotação). É uma moeda com uma volatilidade enorme. Você comprar para fazer ganhos rápidos eu não recomendo. É um investimento de médio e longo prazo mesmo", diz Novarro.
O investidor não se mostra preocupado com a criação de uma segunda via de negociação da moeda virtual com capacidade de oito megabytes. Segundo ele, os blockchains são os blocos onde ficam registradas as transações que são feitas em um determinado número por segundo, infinitamente abaixo das operadoras de cartão, que movimentam milhões de ordens no mesmo intervalo de tempo. Novarro lembra, por fim, que, por ser uma moeda mundial, as cotações variam de país para país.
"Na Bitstamp, uma corretora americana está com a cotação de US$ 2.752 por bitcoin, enquanto na Walltime (brasileira), que eu uso normalmente, a cotação está em R$ 9.500. Se você for calcular o dólar bitcoin, fazendo o cálculo do bitcoin em dólar para o bitcoin em reais, o dólar bitcoin acaba ficando maior que o dólar turismo ou comercial. O brasileiro paga em média mais caro do que o americano para comprar bitcoin, porque o mercado é menor", finaliza Novarro.