O governo dos Estados Unidos começou a fazer barulho por conta do aumento das importações do biocombustível brasileiro feito a partir da cana-de-açúcar. Isso fez com que o Brasil apresentasse propostas de maior taxação sobre as importações do etanol de milho produzido em solo estadunidense.
Seria o início de uma guerra comercial? Se for o caso, as primeiras análises dão conta de que sairíamos vencedores, já que o mercado interno é robusto, somado à recente elevação de taxas de importação de etanol na China (uma grande consumidora do produto). Mas as coisas não prometem ser fáceis.
A Sputnik Brasil conversou com exclusividade com o diretor-executivo da Bioagência, a Agência de Fomento de Energia de Biomassa Tarcilo Rodrigues. De acordo com o especialista, a sobretaxa ao etanol brasileiro foi uma realidade até 2014, motivo pelo qual a indústria americana no setor se consolidou, se tornou a maior do mundo (produz 50 bilhões de litros por ano) e é agora mais competitiva.
"O processo de endividamento das usinas nacionais é muito alto, as taxas de juros são ainda as maiores do mundo. O setor está passando por uma série de ajustes (…). Para renovar as lavouras, é preciso de capital elevado. À medida que você não consegue esse capital a taxas compatíveis com o negócio, há deterioração dos níveis de produtividade e encarecimento do produto. É uma situação inversa ao etanol americano, que tem uma indústria consolidada, amortizada, o custo da energia para transformação de milho em etanol reduziu radicalmente", preocupa-se Rodrigues.
Em tempos de Donald Trump, avesso a políticas de controle do clima e entusiasta da indústria de óleo e carvão, essa pode parecer uma realidade distante no curto prazo. Por enquanto, a turma do "deixa disso" já entrou em campo. De acordo com a Bloomberg, o Brasil adiou a decisão da sua câmara de comércio sobre o possível imposto de 20% e lobistas iniciaram o trabalho de convencer o governo americano sobre os danos às relações comerciais entre os dois países.