O estabelecimento das zonas de desescalada (ou de segurança) na Síria não será o suficiente para restabelecer a paz no país. O próximo passo deve ser a transformação das unidades da oposição armada em forças políticas, explicou à Sputnik Boris Dolgov, pesquisador sênior do Centro dos Estudos Árabes e Islâmicos junto à Academia das Ciências da Rússia.
"Eu gostaria de salientar uma coisa bastante óbvia mas que passa despercebida a muitos: a presença de dezenas de milhares de militantes armados na Síria não é o melhor ambiente para a solução política do conflito", diz ele.
Relativamente à possibilidade de cooperação entre a Rússia, os EUA e a Turquia na Síria, isso é bastante improvável devido às diferenças consideráveis de interesses que cada um desses países persegue no Oriente Médio, afirma.
"Além disso creio que as sanções adotadas pelos EUA contra a Rússia são uma medida voltada à intensificação do confronto com Moscou. A Rússia respondeu de forma bastante dura, apesar de preferir atuar de forma mais moderada e flexível na arena internacional. Essas sanções, sendo atos hostis, podem ter em certa medida um impacto negativo sobre a situação na Síria. Justamente por isso, qualquer operação conjunta na Síria envolvendo a Rússia, a Turquia e os EUA está fora de questão", concluiu o especialista.
Entretanto, na terça-feira (8) o jornal israelense Haaretz divulgou que Israel, a Rússia e os EUA haviam mantido várias rodadas de negociações secretas para debater o cessar-fogo na parte sul da Síria e estabelecer as áreas de desescalada antes que o acordo de cessar-fogo russo-americano foi anunciado no dia 7 de julho.
Em 3 de agosto o Ministério da Defesa russo anunciou a criação da terceira zona de desescalada na Síria, ao norte da cidade arrasada de Homs. O acordo entre os militares russos e a chamada "oposição moderada" foi alcançado durante as conversações no Cairo, Egito, a 31 de julho. A área delimitada inclui 84 povoados com uma população superior a 147 mil habitantes.
O acordo de criação das zonas de desescalada na Síria foi celebrado a 4 de maio em Astaná, Cazaquistão, numa reunião entre a Rússia, o Irã e a Turquia, que passaram a ser países fiadores do cessar-fogo na Síria. Foram criadas quatro zonas de desescalada: na província de Idlib (norte da Síria); no norte da província de Homs; em Ghouta Oriental, a leste de Damasco; no sul do país, incluindo partes das províncias de Daraa e Quneitra.