Apenas um sinal?
De acordo com o analista, "já faz muito que todos perceberam" que nem os membros da administração de Trump sabem sempre interpretar o que ele queria dizer com suas declarações. Porém, neste caso particular, fica claro que não se planejava nem uma guerra, nem um ataque "à maneira síria" — isto é, vários mísseis de cruzeiro e pronto, como aconteceu na base aérea de Shayrat.
Esta ideia, de acordo com Kosyrev, foi expressa por quase todas as pessoas envolvidas. O diretor da CIA, Mike Pompeo, comunicou que o presidente apenas quis "enviar um sinal" a Pyongyang. O conselheiro para Segurança Nacional, Herbert McMaster, contou que "não estamos mais perto da guerra que 10 dias atrás, contudo estamos mais perto que 10 anos atrás".
Ao mesmo tempo, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, que há pouco viajou às Filipinas para participar da cimeira da ASEAN exclusivamente para discutir o tema coreano, se queixa de uma "falta de coordenação" entre a sua entidade e a Casa Branca.
"Vamos ver se por detrás de todos estes 'fogos e fúrias' está algo sofisticado e profundo. Aceitemos que ainda poucos compreendem como é que funciona a administração de Trump, quem elabora as decisões e quais são elas, mas tanto faz. Pode ser que as decisões não sejam acidentais, mas representem uma estratégia. Por exemplo, uma estratégia para refrear a China, ou seja, não tem nada a ver com uma Coreia do Norte qualquer", aprofundou o jornalista.
Ceder ou não ceder, eis a questão
"A China (e a Rússia) fizeram seu trabalho e ajudaram Trump, tanto mais que uma Coreia do Norte nuclear para estes dois países é algo extremamente indesejável, pois neste caso seus vizinhos obterão as mesmas armas. A resolução do problema se chama 'congelamento duplo'. Os coreanos param de lançar mísseis e fazer explodir dispositivos nucleares, os EUA suspendem os exercícios conjuntos com a Coreia do Sul na península coreana. Tudo isto será temporário, enquanto durarem as negociações. Assinalemos que os países asiáticos gostaram do conceito. Parece que Pyongyang também", explica Kosyrev.
Porém, há pouco tempo os EUA já argumentaram porque este conceito não serve — isto é, não se pode colocar Washington e Pyongyang em pé de igualdade.
"Eles são os vilões, nós somos o archote do bem", graceja o jornalista.
Nesse respeito, vale ressaltar que recentemente Trump tem não apenas falado sobre a ameaça norte-coreana, mas também sobre uma possível investigação e sanções em relação à China devido ao alegado roubo de propriedade intelectual e tecnologias americanas pelos chineses.
Ao mesmo tempo, Trump afirma com uma "sinceridade comovente": "Caso a China nos ajude [com a Coreia], eu tratarei as questões comerciais de forma muito diferente, muito diferente…"
"Isto é muito próprio dos americanos: eles precisam de ajuda, mas não podem pedi-la — apenas [podem] exigir e obrigar", expressou Kosyrev.
De acordo com o jornalista, há muitos boatos de que as conversações diretas entre os americanos e os norte-coreanos já estarão sendo preparadas, ou já estarão sendo, de fato, travadas. E tudo o que se passa — é apenas "uma imagem de marca de Trump" para reforçar suas posições nas vésperas das negociações.
"E o que teremos no final? A China não é um país assim tão orgulhoso para não ceder à pressão. Talvez ceda, e isto seria bem próprio dos chineses", resume o analista.