Ao que tudo indica, porém, o descanso será curto: o Ministério da Defesa está prestes a bater o martelo sobre o próximo destino dos militares brasileiros sob a égide da ONU.
Desde abril, quando o Conselho de Segurança da ONU aprovou o encerramento da Missão, a rotina comum de patrulhamento e atividade militar também envolve catalogar, etiquetar, auditar e decidir o que fica e o que volta para o Brasil de toda a parafernália utilizada pelas tropas em mais de uma década. É uma tarefa inédita para homens que, além de serem treinados para as funções corriqueiras assumidas por outros contingentes, realizam uma rotina de desmobilização inédita na história recente das Forças Armadas.
"A gente percebe um certo desgaste do haitiano. Não se manifestam contrários à nossa presença, até porque com o brasileiro o haitiano verbaliza muito o apoio. Mas assim, é um outro país aqui né […]. Um exemplo: antes, no trânsito os nossos homens desciam do comboio, mandavam parar para as ações fossem realizadas ou para que os veículos oficiais seguissem caminho. Era comum respeitarem a ordem, hoje já necessário uma negociação, um pedido mais efusivo. São 13 anos, o país está melhorando um pouco, vai exaurindo", conta o subcomandante do BRABAT 26, coronel Luís Cláudio Romaguera Pontes.
Próximo destino
A base brasileira em Porto Príncipe está tomada de adesivos. São eles que determinam o que será repatriado ou não ao Brasil. O material com etiqueta amarela será levado a instituições de caridade, os com etiqueta azul serão entregues a ONU e as etiquetas verdes são, justamente, o que está sendo empacotado. Boa parte do tempo do BRABAT 26 foi empregado na construção de enormes caixas de madeira que acondicionarão armamentos e mobiliário que embarcam em contêineres de volta ao Rio de Janeiro e a Pindamonhangaba, interior de São Paulo, até o final de outubro.
A escolha pela RCA teria sido mencionada mais de uma vez por meio de videoconferências diárias realizadas entre o comando do BRABAT e autoridades brasileiras. O favorito Líbano teria sido posto de lado porque a Espanha, que detém tropas no país, não tem interesse em deixar o comando. Outra opção ventilada, o Chipre, considerada uma missão mais tranquila, possui tropas da Argentina que também não têm planos de sair.
"A ONU não vislumbra uma substituição nesses países, mas já sinalizou que precisaria de um batalhão brasileiro na República Centro-Africana. O Ministério da Defesa quer o quanto antes partir para a próxima missão para aproveitar o legado porque a estrutura criada aqui no Haiti tende a esvaziar, para retomar depois fica pior. A ideia é o quanto antes enviar o pessoal para África […]".
Ainda de acordo com Romaguera, agora são decididas informações de natureza mais técnica, como por exemplo a forma de enviar o material que sai do Haiti à África, no caso de confirmada a nova missão. Como a República Centro-Africana não tem litoral, seria necessário costurar um acordo com o vizinho Camarões. Também será necessário analisar os riscos e a logística por terra (avaliações estas que tendem a ser muito mais minuciosas que a feitas no caso do Haiti dada a complexidade da situação), etc. O Exército, porém, trabalha com uma partida já no ano que vem, embora segundo o coronel, seja "difícil precisar o mês".
Depois de definido o destino, ainda será necessário aprovação do Congresso Nacional, da Presidência da República e do ok do Conselho de Segurança da ONU. Resta saber se, em ano de eleição, toda a tramitação burocrática andará na velocidade que querem os militares.
Atualização 17:32: O nome do coronel Romaguera estava grafado incorretamente na versão anterior do texto. Ao contrário do informado na primeira versão, será o Ministério da Defesa, e não o Exército, quem "baterá o martelo" e decidirá o destino dos militares. O trecho sobre o tamanho do contingente também foi reescrito para evitar ambiguidades. A Sputnik Brasil corrigiu as informações.