A visita de Cartes, que interrompeu um longo jejum de encontros entre o presidente brasileiro e líderes internacionais, marca também o esforço dos dois membros do Mercosul em prol do fechamento de um acordo comercial com a União Europeia, que se arrasta há duas décadas. Assim como o Brasil, o Paraguai insiste na derrubada das barreiras comerciais por parte dos europeus, principalmente nas commodities agrícolas. O Brasil, que está na presidência temporária do Mercosul, será substituído pelo Paraguai no primeiro semestre de 2018.
Para Alcides Costa Vaz, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), embora os temas da agenda do encontro não trouxessem novidades, nem mesmo a revisão do acordo tarifário pago pelo Brasil ao vizinho no âmbito da produção de energia da Usina de Itaipu, a discussão sobre a necessidade de uma estratégia comum de comércio e no combate ao contrabando e ao narcotráfico pode ser considerado um avanço nas relações bilaterais.
"Diferentemente da visão que prevalece dentro da sociedade brasileira, que é relativamente mal informada sobre o próprio Paraguai, com visões muito estereotipadas, há uma agenda bastante diversificada e creio que é o que está sendo repassado aqui em Brasília, hoje. Do ponto de vista comercial, é importante considerar a importância do Paraguai no funcionamento da união aduaneira do Mercosul. A economia paraguaia se fechou no Mercosul. Pelas próprias características da economia paraguaia, isso suscitou muitas resistências internas do Paraguai em relação ao próprio Mercosul. Setores do empresariado paraguaio, inclusive no início de todo o processo de integração, reivindicavam a saída do país do bloco", lembra o professor.
Vaz admite que o cenário hoje é outro devido, entre outros fatores, a possibilidade de negociação conjunta com os europeus, principalmente no tocante à soja, commodityy da qual os paraguaios se tornaram grandes exportadores nos últimos anos, graças à tecnologia trazida pelos "brasiguaios", brasileiros hoje estimados entre 400 e 500 mil, que se radicaram no país vizinho e participam ativamente da produção agrícola, apesar das pressões que vêm sofrendo no tocante ao questionamento da legalidade da posse de terras.
A construção da hidrelétrica de Itaipu, em 1975, e a consequente desapropriação de terras acabaram desalojando milhares de famílias paranaenses que migraram para o país vizinho, atraídas pelo preço da terra. Com o passar dos anos, os problemas surgiram de convivência surgiram com os paraguaios acusando os brasileiros de possuírem as melhores terras no país, de falarem sua própria língua, não ensinarem o guarani como segundo idioma aos filhos e até de hastearem a bandeira brasileira em solo paraguaio.
Na visão do professor da UnB, a questão dos "brasiguaios" é bastante complexa, tendo em vista que há uma diversidade de situações. "Há brasileiros produzindo em terras cuja titulação está perfeitamente legal. Há brasileiros produzindo em terras cuja titulação está sendo questionada e há outras situações que são inteiramente incertas do ponto de vista jurídico", observa Vaz, para quem a influência crescente da participação dos brasileiros na economia paraguaia suscita resistências de segmentos que consideram o Brasil um país imperialista. "A despeito do caráter bastante assimétrico dessas relações, é preciso compreender que o Paraguai é importante par o Brasil", finaliza o professor.
Seguindo a tradição iniciada na viagem à Noruega, quando confundiu o nome do rei do país com o da Suécia, Temer cometeu mais uma gafe nesta segunda-feira. Ao falar sobre a Constituição brasileira, afirmou:
"Na nossa Constituição, existe um dispositivo especial que determina que toda e qualquer política pública do país se volte para a integração latino-americana de nações. Portanto, quando fazemos isso, fazemos pelo apreço que temos na relação Brasil e Portugal, mas também fazemos por fruto de uma determinação constitucional", disse ao seu colega de Mercosul.