Em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil, Guilherme Damasceno falou sobre a questão do terrorismo, das razões que levam pessoas a se integrar à esta organização e do perfil dos militantes.
Jorge Lasmar e Guilherme Damasceno estudam o terrorismo há, pelo menos, cinco anos:
“Nosso interesse pelo tema terrorismo começou em 2012 quando eu estudava Relações Internacionais e cursava essa Disciplina de forma isolada. O Professor Jorge Lasmar foi meu orientador na época, e esse tema sempre nos fascinou, tentar entender o que levava uma pessoa, muitas vezes ocidental, nascida e criada em países como França e Bélgica, a abandonar sua família, casa, trabalho e migrar para um conflito, com muito pouca repercussão direta em sua vida, um conflito que não lhe pertence, e se voluntariar para um grupo como Estado Islâmico, grupo que mais recebeu voluntários estrangeiros.”
Perguntamos ao Pesquisador Guilherme Damasceno, que trabalha na divisão da Interpol da Polícia Federal, que tipo de perigo o Daesh representa para o Brasil:
“O Estado Islâmico tem uma propaganda extremamente sofisticada, tem narrativas múltiplas, a organização terrorista consegue customizar o tipo de narrativa, o tipo de problema social que identifica em cada comunidade e em cada público alvo, O fato é que o Estado Islâmico jamais se preocupou em produzir propaganda em línguas latinas (português e espanhol) para privilegiar a identificação desses problemas aos quais eu me referi. Mas isso não impede que alguns brasileiros consumam ativamente a propaganda do Estado Islâmico, seja pela Internet ou por qualquer outro meio, o que pode ter reflexo no Brasil ou em qualquer outra parte do planeta.”
Damasceno apontou os países da América Latina que mais têm integrantes no Daesh:
A Tríplice Fronteira também foi abordada pelo pesquisador:
“Já sobre a região da Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai), eu não tenho elementos para falar nada de concreto em termos de cooptação de jovens da região pelos recrutadores do Estado Islâmico. Além do mais, o fato de eu trabalhar na Polícia Federal (mas não na Divisão Antiterrorismo) impede que eu emita qualquer consideração a esse respeito.”
O Pesquisador afirma ser extremamente complexo apontar fatores isolados para definir causas que induzam ao terrorismo:
“A questão da pobreza e da atração de jovens de comunidades economicamente menos favorecidas como fatores de cooptação pelo Estado Islâmico, nós a consideramos extremamente complexas. Nossa tese é de que a atração por atender aos apelos do Estado Islâmico se deve a fatores muito mais individuais do que sócio-econômicos. Não podemos dizer que haja um padrão de “militante” do Estado Islâmico. Em nossas pesquisas, mal conseguimos encontrar dois casos que se assemelhassem, de modo que consideramos inadequado tentar padronizar o “integrante” do Estado Islâmico, principalmente se quisermos vincular suas características às da pobreza. Nosso argumento é de que, em cada pessoa, existe uma combinação bem única de fatores que dividimos em três tipos de análises: fatores externos, internos e intermediários. São esses fatores que levam a pessoa à radicalização e, no caso, a se vincular, voluntariamente, ao Estado Islâmico. Fatores internos são de ordem psicológica; externos, de ordem sócio-econômica; e intermediários, fatores outros que se situam entre ambos.”
Guilherme Damasceno conclui afirmando que não se pode padronizar o perfil do integrante do Daesh:
“Pesquisadores de terrorismo evitam correlacionar extremismo e pobreza. Há comprovações de que alguns militantes do Estado Islâmico são retirados de bolsões de pobreza assim como há comprovações de que muitos deles viviam em condições econômicas muito favoráveis. Portanto, não se pode determinar uma causa única, direta e objetiva como preponderante para definir o perfil do integrante do Estado Islâmico.”