Superdimensionada segundo várias analistas, por conta da realização da Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016, a oferta de quartos dobrou na cidade e agora mostra níveis preocupantes de desocupação com a retração de turistas tanto do Brasil quanto do exterior. A taxa caiu de 79% em média em 2011 para 58% no ano passado e em algumas regiões, como na Barra da Tijuca e na Zona Portuária, existem empreendimentos com andares inteiros desocupados. Na Zona Portuária, que recebeu pelo menos três grandes hotéis nos últimos três anos, um dos empreendimentos está recebendo hóspedes de um concorrente, que registra 255 quartos vazios. Diante desse quadro, há hotéis no Rio que já contabilizam prejuízos mensais na casa dos R$ 2 milhões.
Ouvido pela Sputnik Brasil, Douglas Viegas, membro da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-RJ) e um dos diretores do Arena Ipanema Hotel, na Zona Sul da cidade, atribui as dificuldades enfrentadas pelo setor a três componentes: a crise econômica e política que o Brasil atravessa, a grave crise da economia fluminense e o aumento da violência na cidade, muitas vezes transmitida pela mídia também no exterior.
O empresário reclama também do pouco investimento que o governo destina à divulgação do país como destino turístico. A Embratur tem um orçamento de US$ 15 milhões para divulgar destinos turísticos lá fora, enquanto o México conta com recursos de US$ 400 milhões por ano. Viegas lembra que, nos últimos anos, o Brasil recebe cerca de 6 milhões de visitantes estrangeiros por ano, quantidade que a Torre Eiffel recebe de turistas que vão a Paris só para fotografá-la. Ainda com relação ao México, Viegas lembra que Cancún, um dos balneários mais famosos do país, tem apenas 22 quilômetros de praias, faixa equivalente à da Restinga de Marambaia, na Zona Oeste do Rio.
O membro da Abih-RJ também credita aos problemas enfrentados pela hotelaria carioca o fato de que a oferta de quartos dobrou nos últimos anos, passando de 28 mil para 60 mil quartos. Ele lembra, porém, que todas as cidades que sediaram Olimpíadas enfrentaram problemas de capacidade ociosa nos dois primeiros anos após o encerramento dos Jogos, como Barcelona. Viegas admite que esses problemas diminuíram muito o fluxo de turistas, mas eles não abandonaram a cidade de todo. A prova, segundo ele, é que no ano passado a ocupação média da hotelaria no Rio foi de 78% nas festas de fim de ano e, na semana do réveillon, um incremento de 8,33% em comparação com igual período de 2015.
"Entre os associados da Abih-RJ, a ocupação média neste momento está em 37%, tendo picos em Leme e Copacabana (43%). Este ano o réveillon será mais um turismo doméstico. Na rede Arena de Hotéis, nas unidades de Copacabana e Leme já estamos com uma ocupação de 65%. Vamos ter uma realidade maior somente quando chegarmos no final de outubro", diz o executivo.
Com relação ao aumento da violência na cidade e a presença das Forças Armadas ainda assim, ele minimiza a questão, embora reconheça que o quadro seja grave.
"A violência que está acontecendo na Europa não acontece na nossa região, o que acontece nos Estados Unidos não acontece na nossa região", conclui Viegas, que cobra a realização de um calendário permanente de eventos para a cidade, que não pode ficar restrita a réveillon e carnaval.
Para a presidente da Seção Rio da Associação Brasileira das Agências de Viagem (ABAV-Rio), Cristina Fritsch, o aumento da violência tem impactado, sim, os negócios do setor.
"Tivemos esse ano um carnaval com a hotelaria com 80% de ocupação, que não foi ruim, mas poderia ter sido melhor e depois disso tiemos uma queda no turismo da cidade. Se isso (ocombate à violência) não for resolvido na nossa cidade e no nosso país, a gente não vai andar nunca. O Rio de Janeiro é uma cidade que respira turismo, embora na nossa visão os nossos governantes não têm essa percepção. Não basta só a Força Nacional. Ela entra ocupa, desocupa e volta tudo a mesma coisa", diz Cláudia.
Com relação ao aumento da violência e a prática de que algumas operadoras de turismo oferecem passeios guiados por comunidades do Rio, a presidente da Abav-Rio afirma que a principa motivação para o visitante eestrangeiro não é conhecer o ambiente onde se reproduzem episódios de violência, mas conhecer detalhes de como vivem aquelas comunidades, muitas vezes, no Rio, vizinhas de comunidades de alto poder aquisitivo, como na Zona Sul e na Zona Oeste.
"Aí ele faz a comparação com o que ele vê no asfalto. A comunidade está grudadinha numa Vieira Souto. Ele não vem aqui para ver violência. Ele quer ver uma vista linda, como se vive numa favela, num barraco. Ele quer ver contrastes", diz Cristina.