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China aprende português de olho no Brasil e na África

© AFP 2023 / ISAAC LAWRENCEBandeira da China (foto de arquivo)
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Nos últimos 10 anos, o número de instituições chinesas dedicadas ao estudo da língua portuguesa quase quadruplicou, passando de 6 para 23, e especialistas afirmam que a maior razão deste extraordinário crescimento são os interesses econômicos da China na América Latina e na África.

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A presença chinesa em países como Angola e Moçambique é notável. Nas duas últimas décadas, o volume de investimentos chineses na África cresceu mais de 20 vezes, passando de US$ 10 bilhões em 2000 para US$ 220 bilhões em 2014. Em setembro de 2016, Angola se tornou o maior fornecedor de petróleo para a China, enquanto Moçambique está entre os 5 países com maior concentração de investimentos chineses.

O Brasil segue no mesmo passo. Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do país, substituindo o primado histórico das relações com os Estados Unidos, e não é sem motivo que o Presidente Temer, na véspera da Cúpula do BRICS, terá encontros em Pequim com o líder chinês e com empresários daquele país.

Especialista em países BRICS – o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, Diego Pautasso, professor de Relações Internacionais do Colégio Militar de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, analisou em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil o que representariam para o Brasil os investimentos que a China tem aplicado na África. Esses valores conseguiriam provocar no Brasil um avanço rumo ao desenvolvimento:

“Infelizmente, [os valores] não são suficientes. O comércio exterior e os investimentos estrangeiros, embora sejam variáveis importantes para o crescimento e desenvolvimento de um país, não são suficientes [para estes fins]. Quando se analisa a história política e econômica de qualquer país, a gente vê que o capital se fortalece", disse.

Segundo ele, a política de capitais e a formação bruta de capitais têm de ser predominantemente domésticas. "[Na China], o dinheiro estrangeiro nunca passou de 10% do total da formação de capital bruto. Então eu creio que as parcerias internacionais, apesar de muito importantes, precisam estar enquadradas num projeto nacional de desenvolvimento mais abrangente, que permita internacionalizar a tecnologia, criar cadeias de valor e assim por diante”, disse o especialista citando o caso da China.       

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Diego Pautasso acredita que a China vai ocupar o espaço a ser deixado vazio na África pela saída das empresas brasileiras, após o impacto dos escândalos de corrupção envolvendo empreiteiras como Odebrecht, OAS e Andrade Gutierrez, todas com grandes volumes de investimentos em países como Angola e Moçambique.

“Todo aquele esforço que o Brasil vem fazendo desde os anos 70 para começar a exportar serviços e entrar para um grupo muito seleto de países capazes de exportar serviços de engenharia, de internacionalizar empresas de grandes proporções – o que teve uma aceleração muito significativa durante os Governos Lula e Dilma –, hoje está sendo colocado por terra. Como a gente vê, não é um projeto que se refaz em 1, 2, 3, 4 anos, mas sim em décadas. São projetos intergeracionais que, literalmente, estão indo para o ralo a partir da [Operação] Lava Jato e da falta de compromisso com empresas que fazem parte de uma histórica industrialização do Brasil”, comenta.   

O Professor Pautasso se mostrou convicto de que as empresas chinesas de engenharia ocuparão os espaços vagos e que a cooperação entre China e países da África tende a um implemento cada vez maior e mais sólido. 

"A China, desde meados dos anos 90, percebeu que a África era uma grande fronteira de expansão mundial do capitalismo e dos negócios. Era um continente que estava à margem do processo de globalização, e [a China] intensificou suas relações, fez a multiplicação do comércio de investimentos e, de lá para cá, as relações [entre África e China] têm sido muito sinérgicas", observou.

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Em relação à expansão do ensino do idioma português na China, Diego Pautasso vê o fato como perfeitamente natural, já que é consequência dos planos de inversões que o Governo chinês tem não só para o Brasil como também para os países de língua portuguesa. Por isso, o especialista considera perfeitamente compreensível que a China queira ter entre seus quadros de especialistas profissionais habilitados a compreender e falar o português, de modo a facilitar a comunicação entre chineses e habitantes de países de língua portuguesa.

Por sinal, o ensino do idioma português na China deverá ser enfocado na próxima Reunião de Cúpula do BRICS, marcada para os dias 3, 4 e 5 de setembro em Xiamen, cidade da Província de Fujian, no Leste do país. O tema do encontro será “BRICS: Parceria Mais Forte para um Futuro Mais Brilhante”.

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