O Brasil segue no mesmo passo. Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do país, substituindo o primado histórico das relações com os Estados Unidos, e não é sem motivo que o Presidente Temer, na véspera da Cúpula do BRICS, terá encontros em Pequim com o líder chinês e com empresários daquele país.
Especialista em países BRICS – o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, Diego Pautasso, professor de Relações Internacionais do Colégio Militar de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, analisou em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil o que representariam para o Brasil os investimentos que a China tem aplicado na África. Esses valores conseguiriam provocar no Brasil um avanço rumo ao desenvolvimento:
“Infelizmente, [os valores] não são suficientes. O comércio exterior e os investimentos estrangeiros, embora sejam variáveis importantes para o crescimento e desenvolvimento de um país, não são suficientes [para estes fins]. Quando se analisa a história política e econômica de qualquer país, a gente vê que o capital se fortalece", disse.
Segundo ele, a política de capitais e a formação bruta de capitais têm de ser predominantemente domésticas. "[Na China], o dinheiro estrangeiro nunca passou de 10% do total da formação de capital bruto. Então eu creio que as parcerias internacionais, apesar de muito importantes, precisam estar enquadradas num projeto nacional de desenvolvimento mais abrangente, que permita internacionalizar a tecnologia, criar cadeias de valor e assim por diante”, disse o especialista citando o caso da China.
“Todo aquele esforço que o Brasil vem fazendo desde os anos 70 para começar a exportar serviços e entrar para um grupo muito seleto de países capazes de exportar serviços de engenharia, de internacionalizar empresas de grandes proporções – o que teve uma aceleração muito significativa durante os Governos Lula e Dilma –, hoje está sendo colocado por terra. Como a gente vê, não é um projeto que se refaz em 1, 2, 3, 4 anos, mas sim em décadas. São projetos intergeracionais que, literalmente, estão indo para o ralo a partir da [Operação] Lava Jato e da falta de compromisso com empresas que fazem parte de uma histórica industrialização do Brasil”, comenta.
O Professor Pautasso se mostrou convicto de que as empresas chinesas de engenharia ocuparão os espaços vagos e que a cooperação entre China e países da África tende a um implemento cada vez maior e mais sólido.
"A China, desde meados dos anos 90, percebeu que a África era uma grande fronteira de expansão mundial do capitalismo e dos negócios. Era um continente que estava à margem do processo de globalização, e [a China] intensificou suas relações, fez a multiplicação do comércio de investimentos e, de lá para cá, as relações [entre África e China] têm sido muito sinérgicas", observou.
Por sinal, o ensino do idioma português na China deverá ser enfocado na próxima Reunião de Cúpula do BRICS, marcada para os dias 3, 4 e 5 de setembro em Xiamen, cidade da Província de Fujian, no Leste do país. O tema do encontro será “BRICS: Parceria Mais Forte para um Futuro Mais Brilhante”.