O Ice Bucket Challenge (título original do desafio) foi o sucessor do Cold Water Challenge (Desafio do Balde de Água Gelada), que data de março de 2012. O objetivo do desafio é arrecadar meios financeiros para estudar a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA, ou ALS, em inglês), uma doença rara, perigosa e até o momento sem cura. O famoso astrônomo britânico Stephen Hawking é portador dessa doença; ele se tornou um símbolo da persistência, sofrendo de ELA desde os anos 1960, quando ele tinha 20 anos.
Qualquer que seja a origem técnica do desafio (por que necessariamente jogar água gelada?), ele deu uma contribuição importante ao combate à doença.
A Sputnik Brasil contatou a Doutora Dora Brites, do Instituto de Pesquisa Médica da Universidade de Lisboa (iMed.ULisboa). Respondendo à pergunta, que não podia deixar de ser colocada, sobre se o desafio nas redes sociais poderá realmente ter ajudado à medicina, ela disse o seguinte:
"Claro que sim. Não só torna a doença mais conhecida como possibilita a existência de verbas necessárias à investigação, cuja inovação reside na possibilidade de se usar técnicas mais sofisticadas e dispendiosas exigindo maiores recursos, tanto mais que se suspeita serem muitas as causas e com isso a necessidade de produção de tratamentos variados cuja eficácia tem de ser comprovada em ensaios clínicos. Comparativamente com a doença de Alzheimer a ELA é claramente uma doença subfinanciada."
A doutora indicou que existe uma organização, a Associação Americana para a ELA (ALSA na sigla em inglês), que "dispõe hoje de um orçamento mais elevado que lhe possibilita financiar um maior conjunto de projetos de investigação dirigidos à descoberta de novas terapêuticas e seus ensaios clínicos".
"Contudo, o orçamento disponível é ainda muito limitado e a investigação que se desenvolve luta com a escassez de meios. A sensibilização da sociedade é seguramente uma ajuda necessária", frisa Dora Brites.
Sensibilização e conscientização é algo que falta nesta área, que permanece na escuridão quase total.
Sendo uma doença "multi-sistema", provavelmente poderá ser vencida com fármacos "multi-target” (multi-alvos), sugere a cientista.
Em uma recente entrevista concedida ao jornal português Diário de Notícias, a Doutora Dora Brites mencionou que "em 90% das formas esporádicas, o desconhecimento do que leva ao início da doença é total". Ou seja, só conhecemos 10% dos fatores que podem provocar a ELA. Já a ELA é capaz de provocar a atrofia de todos os músculos, o que leva à morte.
Um projeto ativo do qual Dora Brites está participando agora, financiado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (50 mil euros cada ano em 2016 e 2017), tem por objetivo trazer mais luz a este mistério.
As pesquisas continuam, mas "nada foi ainda comprovado até hoje dos fatores que poderão ser predisponentes" para tornar uma pessoa vulnerável à doença, diz Dora Brites.