Levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que pelo menos 42 empresas decidiram literalmente "mudar de lado" nos últimos tempos. E não são mais apenas pequenas e médias. Entre os nomes que decidiram produzir no país vizinho, em lugar de abrir unidades em território nacional, estão a pernambucana Guararapes, que controla a rede de varejo Riachuelo; a Vale, que comprou e opera uma empresa de logística fluvial; a catarinense Buddermeyer, fabricante de artigos de cama, mesa e banho; e a InterCement, do grupo Camargo Corrêa, que constrói fábrica na região de Yguazú.
Além de incentivos fiscais e energia mais barata — a hidrelétrica de Itaipu tem tarifas diferenciadas para Brasil e Paraguai —, as empresas são atraídas pela chamada Lei Maquila, que cobra apenas 1% em tributos das empresas que se comprometem a direcionar a produção à exportação. Outro benefício é que as empresas podem importar matéria-prima e bens de capital com isenção de impostos. Os primeiros resultados já se fazem notar, e o país, que até bem pouco tempo se limitava a exportação de produtos agrícolas, agora desponta como polo promissor em setores como têxtil e autopeças.
Thomaz Zanotto, diretor do Departamento de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do estado de São Paulo (Fiesp), disse à Sputnik Brasil que a mudança de indústrias do Brasil para o Paraguai é fruto das distorções que o governo brasileiro adota há tempos em relação à política industrial.
"Já há cerca de sete anos havíamos publicado estudo mostrando que produzir no Paraguai, como o fio, algodão e jeans, no fim você tinha um produto 35% mais barato do que o produzido no Brasil. À época havia uma distorção por causa da taxa de câmbio, mas assim mesmo, hoje em dia, produzir no Paraguai ainda é 25% mais barato do que aqui. À medida em que o comércio começa a ficar mais rápido no giro, com mercadoria entregue em tempo mais curto, produzir mais próximo de onde é vendido faz sentido e, por isso, alguns setores vêm vantagem em produzir no Paraguai ao invés de importar da China", explica o diretor da Fiesp.
Zanotto observa, no entanto, que há um espaço reduzido para migrações. Isso porque, segundo ele, a população do Paraguai é de 6 milhões de habitantes, menor, portanto, do que a da cidade de São Paulo, e por isso fica limitado o quanto se pode levar de indústria para lá. Ele admite, contudo, que há um movimento, sim, principalmente no setor de roupas, brinquedos e autopeças, como chicotes de automóveis, entre outros.
"No Brasil, o que temos é um problema de competitividade, que é trazida pela questão tributária. São conhecidos os fatores do Custo Brasil, o que torna extremamente caro e penoso. Você é castigado por produzir no Brasil. Agora as reformas estão sendo feitas e, quando elas entrarem em regime, o país vai voltar a ser competitivo para produzir algumas coisas no Brasil, outras vão continuar valendo a pena produzir no Paraguai. Agora tem que levar em conta que a capacidade lá é limitada."
Para o diretor da Fiesp, por suas características de legislação produção, o Brasil não corre o risco de ver suas indústrias migrarem para os outros sócios do Mercosul, como Argentina e Uruguai. Zanotto explica que o Uruguai oferece boas oportunidades, principalmente para indústrias de tecnologia de informação, mas a mão de obra lá é mais cara do que a paraguaia e a legislação trabalhista bem mais complexa, além de o país ter limitação de energia. No caso da Argentina, segundo ele, já existem parcerias com indústrias brasileiras, notadamente na área de montadoras, autopeças e têxteis.