Atualmente morando em Istambul, na Turquia, Daniel não poderia prever que seria personagem e uma trama que de tão absurda parece cinematográfica. Como mostrou a Sputnik Brasil há dois dias, o trabalho do americano foi plagiado por um perfil falso no Instagram que se apresentava como "Eduardo Martins" e dizia cobrir a batalha contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria enquanto se revezava em um trabalho como voluntário em um campo de refugiados na Faixa de Gaza.
Daniel só tem resposta para a última pergunta. Após contato da Sputnik Brasil na sexta-feira (1), ele concedeu por e-mail uma entrevista detalhando a sua reação ao caso.
Sputnik Brasil: Os fotógrafos profissionais acompanham frequentemente as repercussões do seu trabalho on-line, incluindo casos de plágio ou uso indevido. Você não viu nenhuma dessas fotos tiradas por você na web pelo nome de Eduardo?
Daniel C. Britt: Eu não faço isso nunca. Do momento em que começo a trabalhar em uma reportagem até a sua conclusão, mantenho as pessoas à minha volta, é meu trabalho. Quando termino, estou partindo para outra. Não sou de rastrear nada nas redes sociais. Eu tenho tentado fazer esse tipo de coisa parte do meu fluxo de trabalho, mas odeio sentar na frente de uma tela de computador tanto quanto eu odeio ler pessoas chatas publicarem lixo online. Mas isso foi um alerta. A partir de agora, eu tenho que abraçar o SEO [método de posicionamento de conteúdo em serviços de busca], mídias sociais e começar a monitorar meu conteúdo ou algum outro idiota estará vendendo meu trabalho.
DCB: Sim. Não acho que um currículo sólido, experiência ou confiabilidade desempenhem um papel tão grande ao conseguir contratos com agências [de fotos] nos dias de hoje. Como demonstrou Eduardo Matins, um grande acompanhamento de mídia social e algumas selfies darão conta do recado. Dito isto, não culpo as agências. As agências de fotos são empresas. É mais barato vender fotos de um jornalista freelancer em campo que enviar um fotógrafo para uma guerra distante. Eu comecei meu relacionamento com a Playboy como um freelancer na Síria. Ao mesmo tempo em que o mercado funciona contra a precisão, ele permite que sangue novo encontre novas oportunidades. Eu não culpo as agências, eu me culpo. Esse cara vem roubando conteúdo há anos. Eu deveria ter feito a minha diligência devida e mantido com o meu conteúdo. Eu tenho que começar a [usar] marca d'água. Tenho que abraçar a tecnologia, ou pelo menos encontrar um assistente para fazer isso por mim.
SB: Cada foto foi vendida por algo em torno de US $ 575. Você planeja abrir alguma ação judicial contra a Getty Images ou a NurPhoto para receber o dinheiro que as duas empresas levantaram com um trabalho que era seu?
DCB: Isso é engraçado. Eu não sou um cara litigioso. Ligarei para eles na semana que vem. Se gostaram de Eduardo, provavelmente gostarão do meu próximo projeto.
SB: E quanto ao "Eduardo Martins"? Que medidas você pretende tomar? Você contatou outros profissionais que também tiveram seu material roubado para considerar uma ação coletiva?
DCB: Uma ação legal coletiva parece um pouco exagerado. Vou entrar em contato com colegas e perguntar como eles impedem que suas coisas sejam usadas on-line. Pessoas em zona de conflito são geralmente experientes. Alguém na minha lista de amigos tem uma solução rápida para oferecer.
SB: Você mora na Turquia, tirou essas fotos em lugares perigosos. Como você se sente depois de uma pessoa que provavelmente nunca saiu de casa ter usado um trabalho que poderia ter lhe custado sua vida para ganhar fama e dinheiro?