O interrogado entregou aos investigadores milhares de mensagens de correio eletrônico e outros dados, bem como documentos internos da agência de notícias russa, no âmbito de uma investigação que busca determinar se a Sputnik "está atuando como uma arma de propaganda não declarada do Kremlin em violação da Lei de Registro de Agentes Estrangeiros", informou o portal Yahoo News.
"É estranho que os Estados Unidos considerem um jornalista ou uma mídia como agente estrangeiro e queira investigar a pessoa ou a agência nesses termos dentro dos EUA. Os Estados Unidos devem parar de agir como os xerifes do mundo. Eles querem que a lógica estabelecida pelo governo estadunidense prevaleça em todos os países do mundo, e isso certamente não contribui para a democracia e, no caso da Sputnik, não contribui para a liberdade de imprensa e de expressão que, teoricamente, são propagadas pelos EUA", disse à Sputnik Mundo Maria José Braga, presidente da Federação Nacional de Jornalistas do Brasil (FENAJ).
Na opinião da dirigente, se a Sputnik "tem uma linha editorial, isso está expresso em todo o conteúdo jornalístico que produz", mas isso não impede que o material seja amplamente difundido. Além disso, ressaltou a presença da Sputnik "em diversos países do mundo fazendo jornalismo".
FARA, uma lei aprovada em 1938, tinha como objetivo impedir a propaganda fascista nos EUA. De acordo com esta legislação, se deviam inscrever como "agentes estrangeiros" as organizações que realizavam "propaganda" nos EUA, exceto as agências de notícias.
"A investigação do FBI contra a Sputnik é uma provocação e uma violação evidente da liberdade de imprensa", disse à Sputnik Aram Aharonian, fundador da rede Telesur, diretor do Observatório de Comunicação e Democracia e presidente da Fundação para a Integração Latino-Americana (Fila).
Para Aharonian, "como em todos os lados do mundo, os representantes das mídias locais e internacionais devem desfrutar dos mesmos direitos e obrigações em qualquer país".
"O que se passa é que a Sputnik tem um lema, 'Falando nas entrelinhas', que deve incomodar muito as autoridades estadunidenses nesta época de mensagens únicas e verdades virtuais", resumiu.
Se o mesmo sucedesse com a Voz da América, por exemplo, "lançariam gritos até os céus e mandariam os fuzileiros navais para defender a liberdade de imprensa", opinou o jornalista latino-americano.
"Nós acreditamos que nos EUA há liberdade de imprensa e de expressão e que cada um pensa e diz o que quer, mas o WikiLeaks nos demonstrou o contrário: que usam seus organismos de segurança para espiar através de dispositivos eletrônicos", adiantou.
De acordo com o professor Jonathan Turley da Universidade de George Washington, citado pela edição Washington Examiner, "a investigação em relação à Sputnik cruza uma linha vermelha que se tem respeitado por muito tempo". "Tomar arquivos de computadores e comunicações expõe sérias questões relativas à liberdade de imprensa", acrescentou.
"Ironicamente, como faz parte da investigação sobre a influência russa nas eleições nos EUA, muitos dos que sempre apoiam a liberdade de imprensa agora simplesmente se calam", comentou o acadêmico.
"Qualquer que seja a opinião sobre a Sputnik e o RT, a maior preocupação do FBI, ao se focar em um meio de comunicação estrangeiro como suspeito de ser um agente estrangeiro, é a retaliação contra os meios de comunicação apoiados pelos EUA, tais como a Voz da América, ou rádios públicas como a BBC", advertiu.
Trevor Timm, diretor executivo da Fundação Liberdade para a Imprensa, disse à Washington Examiner que "é preocupante cada vez que o FBI se mete a definir quem é jornalista e quem não é".