Porém, muitos cientistas têm realçado que a globalização é um processo cíclico. Há uma teoria que marca como a primeira onda de globalização os meados do século XIX, dado que depois o processo se desacelerou e, antes da Primeira Guerra Mundial, acabou com restrições comerciais em relação aos países do Novo Mundo (para onde tinham ido 60 milhões de europeus no período anterior), bem como devido ao fato dos Estados formarem alianças militares e políticas em confrontação.
O especialista do Instituto de Estudos Europeus de Belgrado, Aleksandar Gajic, falou com a Sputnik Sérvia e frisou que, contudo, há diferenças entre o ano de 1914 e os nossos dias.
"A época entre a queda do Muro de Berlim [1989] e hoje se tem caracterizado pela ausência de polarização ideológica, sendo que atualmente tudo parece estar voltando à Realpolitik, à luta pelos recursos e pelo prestígio. Criam-se novas alianças, o mundo se está movendo para o policentrismo, embora ainda não existam contornos evidentes das alianças que possam provocar um efeito de dominó, como foi em 1914", afirmou.
Ao mesmo tempo, Gajic destaca que as épocas são parecidas, pois os eventos de 1914 também tinham sido precedidos pelo desejo europeu de alastrar sua influência muito para além do seu continente.
Além disso, o escritor e publicista sérvio Muharem Badzulj disse à Sputnik que o mundo bipolar parou de existir depois da queda do Muro de Berlim, enquanto o mundo atual, tal como nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, não tem uma estrutura clara e precisa.
Para Badzulj, a situação atual no Oriente Médio é uma herança da Primeira Guerra Mundial, ou seja, do acordo Sykes-Picot, que delimitou os interesses das grandes potências neste território em 1916.
"Além disso, ao fim da Primeira Guerra Mundial devemos o nascimento do anticolonialismo. Não esqueçamos que em substituição do velho tipo de colonialismo, aberto e transparente, veio o colonialismo novo — o encurralamento de países em uma escravidão de caráter econômico, pois no mundo de hoje, de novo, não há igualdade", resumiu o especialista.
Para concluir, o analista referiu mais um problema — a incapacidade do mundo moderno de criar novas ideias. Na opinião dele, o que na verdade é preciso para mudar a situação é uma "revolução de ideias", mas esta não sucede devido à constante "reprodução dos conceitos antigos".