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Venezuelanos no Brasil: imigração jovem, masculina e com bom nível de escolaridade

© REUTERS / Juan MedinaBandera de Venezuela
Bandera de Venezuela - Sputnik Brasil
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A pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Imigração, órgão vinculado ao Ministério do Trabalho, e que teve apoio do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas Para os Refugiados), vai permitir aos venezuelanos uma melhor ambientação no Brasil. A opinião é do jornalista Luiz Fernando Godinho, porta-voz do Acnur no Brasil.

Em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil, Luiz Fernando Godinho analisou os resultados da pesquisa que foi executada pela Cátedra Sérgio Vieira de Melo, da Universidade Federal de Roraima:

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“O Conselho Nacional de Imigração teve a iniciativa de realizar essa pesquisa, exatamente pela necessidade de se obter dados mais confiáveis em relação à realidade da situação do povo venezuelano em Roraima e, com isso, implementar políticas que possam responder, mais efetivamente, às suas necessidades. Então, a pesquisa é, antes de tudo, uma fonte de informação muito segura e muito confiável que vai ajudar na discussão e na adoção de medidas que possam melhorar a integração dessas pessoas, inclusive a integração laboral delas.”

Para Luiz Fernando Godinho, a pesquisa apontou dados reveladores sobre o perfil dos venezuelanos que se deslocaram para o Brasil:

“Em relação aos aspectos sóciodemográficos da pesquisa, ela revela que é uma imigração majoritariamente jovem (72% têm entre 20 e 39 anos), predominantemente masculina e solteira. A pesquisa também mostra essas pessoas com bom nível de escolaridade. 78% das pessoas entrevistadas têm o nível médio completo, 32% têm nível superior e até mesmo Pós-Graduação. Trata-se de um perfil muito dinâmico revelando pessoas com grande capacidade de integração, não necessariamente nos estados do norte do país mas no Brasil como um todo.”

De acordo com o porta-voz do Acnur, já chega a 30 mil o número de venezuelanos no Brasil:

“Trabalhamos com números oferecidos pelas autoridades brasileiras. As estimativas, com as quais lidamos, são de que haja cerca de 30 mil venezuelanos no Brasil, sendo que 16 mil já solicitaram pedido de refúgio aqui no país. Há também a resolução recentemente aprovada pelo Conselho Nacional de Imigração permitindo a residência temporária sem, necessariamente, passar pelo mecanismo do refúgio. E já são quase mil cidadãos da Venezuela que optaram por essa regularização.”

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Principais dados apontados pela pesquisa do Conselho Nacional de Imigração

. “72% dos imigrantes venezuelanos são jovens entre 20 e 39 anos, a maioria do sexo masculino (63%) e solteiros (54%). Praticamente um em cada três (32%) tem curso superior completo ou pós-graduação, enquanto três em cada quatro (78%) chegam com nível médio completo.

. O principal motivo para emigrar foi a crise econômica (77%) e a maioria dos entrevistados (67%) entrou no Brasil em 2017. Eles vêm de 24 regiões venezuelanas, mas principalmente dos estados de Bolívar (26%), Monagas (16%) e Caracas (15%).

. Mais da metade (58%) deles teve apoio de redes migratórias, como amigos e familiares que já residem no Brasil, mas em geral os venezuelanos em Roraima têm pouco conhecimento do Português e muitos não estudam o idioma.

. Pouco mais da metade dos venezuelanos já acessa serviços públicos em Roraima, principalmente na área da saúde (39%), mas quase a metade do total (48,4%) não utilizou nenhum serviço público.

. A maioria vive em moradia alugada (71%), compartilhando o imóvel com outras pessoas e pagando aluguel de até R$ 300 (56%).

. A maioria dos venezuelanos já trabalha em alguma atividade remunerada (60%), com 28% formalmente empregados. Os principais ramos de atividade são o comércio (37%), serviço de alimentação (21%) e construção civil (13%). Mais da metade dos entrevistados (54,2%) informaram que enviam dinheiro (de R$ 100 a R$ 500) para cônjuge e filhos na Venezuela, para ajudar no sustento desses familiares.

. A maioria dos venezuelanos aceitaria mudar para outro estado, se tivesse apoio do governo federal (77%), mas o deslocamento no Brasil dependeria de oferta de trabalho (80%), ajuda econômica (11,2%) ou auxílio com moradia (5,2%). Já a proximidade da fronteira (38%) e o sentimento de integração em Boa Vista (37%) são os principais motivos para permanecer em Roraima.

. Apenas 25% afirmaram que pretendem voltar à Venezuela. A maioria, por outro lado, disse que não pretende retornar tão cedo (47%) ou não sabe (27%). Entre os que pretendem voltar, a maioria estima um prazo superior a 2 anos (47%), mas só se houver melhoria das condições econômicas (61%) do país vizinho.”

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A pesquisa também levantou dados referentes aos indígenas venezuelanos que vieram para o Brasil. Estes indígenas pertencem à etnia Warao, oriunda da região do delta do Rio Orinoco

. “A presença dos Warao em Boa Vista começou em 2014, mas a escolha pelo Brasil intensificou-se a partir de 2016.

. Os indígenas Warao podem ser encontrados principalmente no Centro de Referência ao Imigrante (CRI) e nas ruas de Boa Vista e Pacaraima. No CRI, criado em novembro de 2016, são aproximadamente 500 Warao. Mas os registros apontam a circulação e residência dos Warao em Pacaraima, Boa Vista, Manaus (Amazonas), e mais recentemente em Belém (Pará).

. O principal argumento para emigrar são a fome, ausência de serviços públicos relacionados a educação e saúde, e o descaso do governo venezuelano com os indígenas.

. A maioria declarou ter deixado parte da família na Venezuela, cuidando dos bens materiais, para migrar acompanhados de outra parte da família, a fim de enviar recursos. Eles se disseram preocupados com os familiares que ficaram e querem trazê-los para o Brasil.

. Os Warao têm acesso aos serviços de educação e saúde, quando chegam ao CRI. Casos mais graves relacionados à saúde são encaminhados para o hospital infantil, Hospital Geral de Roraima ou Casa do índio. Por outro lado, em Pacaraima e Boa Vista, os Warao em situação de rua ainda não têm assistência.

. A maioria dos indígenas abrigados no CRI é do sexo masculino e não exerce atividades econômicas. Já as mulheres costumam continuar realizando o trabalho que faziam antes de migrar, como pedir doações em vias públicas, produzir artesanatos e costuras.

. Em Pacaraima, os homens Warao conseguem trabalho no descarregamento de carretas ou em fazendas e sítios na região – neste caso, com a companhia das mulheres.”

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