O acordo de delação firmado entre sete executivos da J&F com o MPF tem como base a descoberta de uma série de operações corruptas praticadas pelo grupo ao longo de vários anos e envolvendo uma grande quantidade de políticos brasileiros. Em resumo, a holding fazia doações e pagava propinas em troca de benefícios diversos, obtidos por meio de intervenções feitas pelas autoridades públicas.
Joesley e Saud tiveram suas prisões decretadas, por omissão, no último domingo, pelo ministro do STF Edson Fachin, que, apesar do pedido de Janot, rejeitou a detenção de Marcello Miller, cuja conduta, segundo o procurador-geral, poderia configurar participação em organização criminosa, obstrução e exploração de prestígio.
#OABnaMidia: Imprensa destaca decisão da OAB de suspender carteira de Marcelo Miller: https://t.co/RX2pGKEPT2
— Conselho Federal OAB (@CFOAB) 13 de setembro de 2017
Na última quarta-feira, 13, Wesley Batista, presidente da JBS, foi detido por ordem da Justiça Federal de São Paulo por usar informações privilegiadas no mercado financeiro. Ele e seu irmão, Joesley — que também teve um mandado de prisão emitido por esse motivo —, teriam utilizado as delações de executivos do grupo para lucrar com a venda de ações da empresa e com a compra de dólares, já sabendo dos impactos que seriam provocados no mercado após a divulgação dessas delações.
Integrantes da CPMI da JBS foram financiados nas eleições de 2014 pela própria JBS. Veja quanto cada um recebeu: https://t.co/Oddo84aYRF. pic.twitter.com/fsz6yXv325
— Aos Fatos (@aosfatos) 13 de setembro de 2017
A comissão deve contar com 68 integrantes ao todo, sendo metade formada por deputados e a outra metade, por senadores. Titulares e suplentes. Além de alguns cargos ainda estarem vagos no momento, o colegiado vive a instabilidade provocada pela escolha de Carlos Marun (PMDB-MS) como relator. Isso porque o deputado está entre os que receberam financiamento da JBS e é um dos principais defensores do governo do presidente Michel Temer, que, acusado em várias delações, poderia, assim como outros, ser blindado com a ajuda de Marun.
Oposição reage à indicação de Carlos Marun para a relatoria da CPI mista da JBS https://t.co/JkgzvkzCsl pic.twitter.com/1fQUG2HeyO
— Senado Federal (@SenadoFederal) 12 de setembro de 2017
Por conta de desconfianças sobre a objetividade dessa CPI, alguns políticos indicados para compô-la já decidiram abandonar a missão. Um deles é o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que, embora de um partido aliado à atual administração, acredita em um provável acerto de contas.
Amigos, anunciei nesta tarde o meu afastamento da CPI da JBS. Não quero participar dessa farsa. Vejam aqui os meus motivos. #CPMIJBS pic.twitter.com/KdHYjLAyRi
— Ricardo Ferraço (@RicardoFerraco) 12 de setembro de 2017
Crítica semelhante foi feita pelo também senador Cristovam Buarque (PPS-DF), segundo o qual está sendo desenhada uma chapa branca no colegiado. Tanto Buarque como os demais parlamentares que deixaram a comissão (Dário Berger e Otto Alencar) fazem parte da base aliada do governo.
"Essa empresa destruiu a economia do Centro-Oeste, usou o dinheiro do BNDES para fazer o monopólio do abate e das exportações de gado no país. Trouxe prejuízos incalculáveis para Goiás, com número de plantas fechadas, benefícios fiscais que recebeu. Joesley disse que se fez 30 traquinagens, iria contar umas 20. Na verdade, deve ter feito mil traquinagens e contou 10. Estamos aqui para saber como vamos fazer com que uma pessoa que desmoralizou o BNDES, usou dinheiro público para ser um dos campeões do PT, mas que também conviveu com o presidente atual, não saia impune", disse Caiado.
Enquanto a comissão se prepara no Congresso Nacional, o STF deve retomar na próxima semana a sessão, interrompida ontem, para definir a validade das provas contidas nas delações de Joesley Batista.