"Se imaginarmos o Curdistão iraquiano como uma fogueira, então podemos comparar tais países como a Turquia, Irã e Iraque a índios que dançam ao redor desta fogueira com machados indígenas, mas nenhum deles quer tirar com suas próprias mãos as castanhas assadas da fogueira."
"Todos lembram muito bem como as partes asseguraram comprometimento de 'relação amistosa até o dia do juízo final' durante as negociações em Diarbaquir [cidade no sudeste da Turquia] e no congresso do Partido Democrático do Curdistão governante se ouviam gritos 'Turquia nos orgulhamos de você'", frisou Bagci.
Para ele, tudo isso provoca uma pergunta: como pode ser possível o Curdistão iraquiano se tornar inimigo das autoridades turcas um dia depois dos resultados do refendo. Contudo, sendo assim, a Turquia pode ser considerada campeã mundial. Todos sabem a qual velocidade pioraram as relações turcas com a Síria, Israel, Egito, e agora com o Curdistão, com quem ainda ontem a Turquia cooperava muito ativamente, disse o especialista.
"Claro que isso não é um sinal de política equilibrada e de uma abordagem saudável", ressaltou ele na entrevista à Sputnik Turquia.
Huseyin Bagci lembrou que o Curdistão realizou o referendo apesar das objeções da comunidade internacional.
"Se depois disso Barzani criar um Estado independente, a situação será ainda mais complicada e intrínseca. Mas mesmo nestas circunstâncias, a Turquia não terá o direito de intervir na região porque é assunto interno do Iraque. A Turquia poderia introduzir tropas no território exclusivamente a pedido das autoridades iraquianas."
Mas esse cenário é pouco provável. A situação na região agora é muito difícil, a política está indefinida. Agora falam sobre possíveis sanções, mas o "Estado curdo" ainda não foi criado. Se isso acontecer, em primeiro lugar, vão discutir o reconhecimento do Estado recém-nascido na arena mundial. A Turquia, Iraque e Irã podem não reconhecê-lo, mas, podemos pegar exemplo do Kosovo que não foi reconhecido por cinco países da União Europeia, mas 105 Estados o fizeram, relembra e correlaciona o especialista em relações internacionais.
Se logo após o referendo tivesse acontecido proclamação da independência, a situação seria muito mais complicada. Mas não foi proclamada e podemos dizer que as partes querem negociar. Se não querem coexistir no âmbito de um só Estado, nesse caso devem definir os seus limites, como foi no caso do Chipre, e eles poderão conviver com isso, explica Barzani.
De acordo com o especialista, no fim das contas, os iraquianos e os curdos poderão dar um jeito nas relações, e a Turquia ficara em desvantagem. "As autoridades turcas têm uma retórica muito brusca. Talvez, agora a situação requeira tal postura, mas é pouco provável que disso saia alguma coisa boa."
"A Turquia não vai intervir no Norte do Iraque. Mas se se atrever, vai pagar um preço muito alto. Porque se ela decidir agir dessa forma, será reconhecida como ocupadora – o que terá um impacto negativo para ela. Basta lembrar que a crise foi desencadeada ao redor do campo na cidade de Bashiqa, durante a visita do premiê turco, Binali Tildirim, no ano passado ao Iraque."
O referendo sobre independência do Curdistão Iraquiano foi realizado na segunda-feira (25). Segundo dados da comissão independente, 92,7% dos eleitores votaram pela independência. As autoridades iraquianas classificaram o referendo com ilegítimo e sublinharam que não iam negociar com o governo da autonomia depois da publicação dos resultados. Os países vizinhos – Turquia e Irã, tal como os EUA e a ONU, pronunciaram-se contra a votação no Curdistão iraquiano.