O desenvolvimento de armas nucleares foi algo que a Coreia do Sul abriu mão em 1991, quando da assinatura de um acordo com os Estados Unidos – do qual o Norte também participava, pelo menos no papel. Mas Pyongyang nunca honrou a sua parte. E, pela sua sobrevivência, o país obteve "provas" de que o Ocidente não é sempre digno de confiança.
Que o digam o líder líbio Muammar Khaddafi, que costurou um acordo para não desenvolver armas nucleares e, deixado à própria sorte pelos países ocidentais, acabou sendo morto pelo seu próprio povo, em 2011. O iraquiano Saddam Hussein também ensaiou desenvolver as suas armas de destruição em massa, mas aceitou termos do Ocidente, para ser derrubado no início dos anos 2000.
Mais longe do Oriente Médio e mais perto da Coreia do Norte está Seul, capital sul-coreana com mais de 10 milhões de habitantes e que tem, a poucos quilômetros de distância, canhões apontados contra si. Pyongyang poderia abrir fogo a qualquer momento com sérias perdas na cidade. Pior: e se usasse armas atômicas contra a Coreia do Sul? Possível? Mais eficaz?
Em artigo publicado no jornal The Korea Times nesta terça-feira, o editorialista Oh Young-jin relembrou que a possibilidade, embora exista nas mentes de pessoas de todo o mundo, não seria a mais sensata para o líder norte-coreano Kim Jong-un. Não, ele não veria com maus olhos a ideia do Norte de tomar o Sul pela força – como foi em 1950, no início da Guerra da Coreia –, mas o risco não valeria a pena.
"O verdadeiro dilema é que o Norte seria exposto ao mundo exterior e forçado a desbloquear seu reino hermeticamente fechado. Kim poderia manter seu controle em uma Coreia unificada em seus termos? Isso é altamente improvável. A razão pela qual o mundo livre prevaleceu sobre os comunistas pode ser explicada por muitos fatores, mas um é a natureza fechada do comunismo que tornou seu sistema fraco para influências externas. Pode ser comparado a um vampiro que é confrontado com o último batismo de luz solar", escreveu.
Assim sendo, a meta de unificação da Península da Coreia sob o governo de Pyongyang parece distante de ser uma prioridade. Imaginar que o uso de armas nucleares contra Seul também seja uma possibilidade real é esquecer-se do desenvolvimento acelerado de mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), com os quais seria possível atingir os Estados Unidos.
Além disso, a necessidade de obter uma arma confiável, e que possa levar consigo uma ogiva nuclear miniaturizada, parece seguir sendo o foco da atenção de Kim. Para a China e para a Rússia, a manutenção do governo de Kim é importante para impedir uma expansão da presença norte-americana na região – Pyongyang demanda a saída de tropas dos EUA para iniciar qualquer negociação, provavelmente sabendo que isso nunca ocorrerá.
"Escravizar o Sul maior e mais forte, com a ameaça de armas nucleares, é exagerado para dizer o mínimo. O Sul naturalmente seguiria o seu próprio armamento nuclear ou tentaria anular a ameaça do Norte. Em pouco tempo, o Sul alcançaria o equilíbrio de poder, empurrando o Norte para um canto novamente", explicou Oh.
A sobrevivência do governo norte-coreano sob o manto comunista depende do desenvolvimento – e não do uso – de armas nucleares. É o "possível" uso que poderá impedir a sua extinção. Qualquer outro cenário (incluindo o uso contra Seul para unificar a península) só aceleraria uma guerra, cujo desfecho seria trágico em última instância para a dinastia de Kim Jong-un.