O conflito se tornou ainda mais doloroso por se travar entre habitantes do mesmo país. A Espanha ficou, ao final, dividida. Além disso, as partes opostas ficaram claramente definidas: por um lado, os que se manifestam pela independência e, por outro, os que acreditam em uma Espanha unida.
Desde 1 de outubro, ninguém chegou a assumir responsabilidade. Bem como em qualquer outra batalha importante, todos tomam posturas resolutas. Quando Rajoy, ao final, decidiu agir, o fez mal, pelo visto devido à falta de hábito.
O premiê espanhol escolheu a estratégia de presença invisível, se comunicando com a mídia através das telas de TV, se convertendo no primeiro "premiê de plasma".
Em relação a isso, o professor da Universidade Complutense de Madri, Armando Fernández Steinko, explicou à Sputnik Mundo que nas vésperas do referendo o "governo de Rajoy poderia se opor aos nacionalistas em limites muito estreitos, sem direito ao erro. E o começo foi bom: receberam a promessa de uma resposta proporcional".
De acordo com o analista, isso concedeu às autoridades espanholas "uma espécie de liberdade moral, já que as partes tomaram posições assimétricas: Puigdemont, presidente da Generalidade da Catalunha, não estava disposto a conduzir negociações, pois já tinha um plano preparado. As autoridades de Madri, por sua vez, queriam agir de forma recíproca".
"Parece que o governo de Rajoy quis provar que eles eram muito machos e mostrar que na Catalunha ninguém vota", observou.
De acordo com o especialista, muitas pessoas ainda não tomaram consciência de toda a escala da situação criada na Espanha após o referendo.
"Os espanhóis apostaram tudo, e isso é aquilo que Puigdemont queria, ou seja, que isso fosse uma batalha final. Conheço pessoalmente esta atmosfera, tanto na Catalunha, como em Madri, e ela é muito complicada", pormenoriza.
O fogo da briga é alimentado por ambas as partes, mas Rajoy recorreu a um mecanismo mais propagandista, chamando o referendo de "ilegal", embora a Justiça espanhola não tivesse apresentado tal decisão.
"Não apoio nem um, nem outro dos lados. É a minha existência que está em jogo. […] E há muitas pessoas como eu, embora a mídia não fale sobre elas. Mas seria bom, às vezes, permitir que nós também tenhamos direito de expressão", sustentou.