As projeções do Fundo se baseiam em cenários conservadores de aumento de um grau centígrado na temperatura desses países, gerando menor produção agrícola, redução de investimentos, danos a saúde, epidemias mais frequentes, fome, aumento dos desastres naturais, pressão migratório e risco de conflitos. De acordo com o estudo, 60% da população mundial vivem em países onde o aquecimento global se dará de forma mais intensa, afetando países como Haiti, Gabão e Bangladesh.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o coordenador do Observatório do Clima, Carlos Rittl, confirma a gravidade da situação e diz ser preciso que as nações mais desenvolvidas — justamente as maiores responsáveis pela emissão de gases do efeito estufa, como Estados Unidos e China — ajudem financeiramente esses países, que não têm recursos para proteger suas populações.
"Considerando-se que esses efeitos já estão presentes no dia de hoje, como secas, tempestades, chuvas torrenciais cada vez mais intensas e frequentes afetam a população mais pobre de maneira desigual. Países mais pobres têm dificuldade em lidar com uma seca extrema, como a gente viu ano a ano em muitos países da África ou grandes tempestades e furacões nas ilhas do Caribe e no Sudeste da Ásia", assinala Rittl.
O coordenador do Observatório do Clima diz que esse olhar, no longo prazo, mostra um sentido de urgência para que a comunidade internacional cumpra com o que ficou estabelecido no Acordo de Paris, com os países assumindo o compromisso de assegurar US$ 100 bilhões por ano, de 2020 até 2025, para apoiar os países mais pobres em suas políticas de desenvolvimento.
Rittl diz que o abandono do Acordo de Paris por parte dos EUA, após a assunção de Donald Trump, está sendo compensado em parte pelas ações adotadas por países como China e Índia, que estão mudando as matrizes energéticas, trocando o uso de térmicas a carvão por fontes renováveis como a solar e a eólica. Segundo ele, um país como os EUA colocando menos recursos em programas globais de apoio ao meio ambiente pode inibir outros países desenvolvidos que talvez tivessem a intenção de aumentar suas dotações. O especialista diz que economias em desenvolvimento com Coreia do Sul e Singapura também podem colaborar hoje com esse esforço.
“Desde 2009, diversos estudos têm mostrado que a redução de emissões não é boa apenas para o clima, é boa também para os negócios, a economia dos países, como é o caso dos investimentos em fontes renováveis de energia. A energia renovável (eólica, solar, bioenergia) vem se tornando cada vez mais competitiva em relação aos combustíveis fósseis, o que explica um pouco o fechamento de muitas usinas termelétricas nos Estados Unidos”, diz o especialista.
O coordenador do Observatório do Clima diz, por fim, que mesmo países com economias em desenvolvimento, grandes exportadores de commodities do agronegócio, como o Brasil, podem ser fortemente impactadas pelo aumento do aquecimento global que, numa hipótese de ser superior a três graus Celsius, vai provocar um cataclisma ambiental em todo o planeta.
"Há estudos elaborados pela Embrapa, por pesquisadores da Unicamp de 2009 que já indicavam que, num cenário de mudanças climáticas, haveria necessidade de mudança na chamada geografia agrícola. A alteração no padrão de chuvas de Norte ao Sul do Brasil vai tornar algumas regiões não aptas mais à produção de agrícola de culturas como o café, por exemplo. Esse estudo do FMI indica que parte da vulnerabilidade dos países em desenvolvimento está no fato de suas economias serem muito dependentes da agricultura", finaliza o especialista.