Em 2013, quando da divulgação da espionagem contra Dilma, a petista chegou até mesmo a cancelar uma visita oficial que faria aos Estados Unidos e condenou a medida em discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York
Para o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Paulo Velasco, entretanto, a relação entre Brasil e Estados Unidos experimentou um momento de afastamento, mas nunca houve um rompimento e agora deve haver uma retomada da parceria entre os dois países. Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o professor da UERJ também comentou o combate ao tráfico de drogas, o postulado histórico de que a América Latina seria o quintal dos Estados Unidos, a política externa do presidente Michel Temer (PMDB) e a troca de informações entre os países do Mercosul e da Unasul.
Existe cooperação entre Brasil e Estados Unidos?
Tráfico de drogas
"O Brasil está inserido numa rota muito importante de tráfico internacional, especialmente de cocaína. O Brasil está ao lado de grandes produtores de cocaína, especialmente Colômbia, Bolívia e Peru, e é visto como país de trânsito [desta droga], por exemplo, para países da África e da Europa. Por isso, os órgãos de controle de tráfico de drogas dos Estados Unidos percebem como é importante manter a cooperação com o Brasil. Somos um país com fronteiras terrestres muito extensas e com um vasto litoral para o Oceano Atlântico, por onde navega a IV Frota dos Estados Unidos. Então, estabelecer mecanismos de cooperação nesta área — monitoramento do tráfico — torna-se muito importante para a segurança do Brasil, dos Estados Unidos e para vários outros países."
A América Latina é o quintal dos Estados Unidos?
Sobre a reaproximação Brasil e Estados Unidos ser fruto da "guinada" Michel Temer:
"Durante os governos do PT, houve de fato momentos de muito distanciamento entre os dois países e de certa tensão como, por exemplo, as divergências em torno do programa nuclear iraniano, o escândalo com a espionagem, mas houve momentos de intensa aproximação também dos governos Lula com os governos de George W. Bush e Barack Obama. Então, houve momentos de diálogo e aproximação, inclusive com a celebração de acordos militares, estes celebrados no governo Dilma em 2015, depois dos escândalos da espionagem revelados em 2013. O que o governo Michel Temer está fazendo não é nada muito diferente do que já vimos em anos anteriores, inclusive nos governos do Partido dos Trabalhadores. Eu não consigo enxergar uma reorientação robusta da política externa brasileira. Seja na chancelaria passada, com José Serra, seja na atual, com Aloysio Nunes Ferreira, continuamos a ver o Brasil muito ligado aos demais países Brics, com o Temer fazendo questão de participar, pessoalmente, das últimas cúpulas do Brics. O Brasil mantem seus laços e não abre mão do relacionamento com os Estados Unidos. Portanto, o que estamos vendo no governo atual é nada muito diferente dos governos anteriores. Deu até a impressão de que algo poderia mudar quando José Serra traçou as diretrizes do Ministério das Relações Exteriores. Mas, na prática, praticamente nada mudou. Por sinal, continuamos muito acanhados em termos de política externa."
Troca de informações entre países do Mercosul: