Crianças de Kosovo desaparecem para casar ou para tráfico de órgãos?

© AFP 2023 / Robert AtanasovskiSilhuetas de crianças vistas na janela, Kosovo
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Há poucos dias, o ex-presidente e ex-premiê da Albânia Sali Berisha escreveu em sua página no Facebook que um policial lhe comunicou sobre casos de tráfico de crianças, via fronteira entre a Albânia e Kosovo, a fim de posteriormente seus órgãos serem vendidos.

O político albanês citou as palavras do policial:

"Senhor Berisha, sou policial, sirvo na fronteira [entre Albânia e Kosovo] perto da cidade de Kukes. Via fronteira são transportadas ilegalmente crianças e adolescentes até 18 anos para transplantação de órgãos deles. Os policiais recebem propinas de 20 mil lekes (R$ 560). Até hoje, já foram assim transportadas nove crianças, anteriormente sequestradas de povoados pobres. Peço para publicar estas informações e tomar quaisquer medidas", se lê no pedido do agente das forças de segurança.

Sputnik Sérvia tentou investigar estas informações. A mídia albanesa ignorou completamente este comunicado, contudo, várias pessoas de uma municipalidade de Kosovo, Dragash, que fica perto de Kukes, comunicaram à Sputnik sob anonimato que durante os últimos meses quarto crianças tinham desaparecido. Todas elas, três meninas e um menino, tinham de oito a doze anos.

"Não sei se isso está ligado de algum jeito com as declarações do senhor Berisha, mas se levar em conta que Dragash está cercada por montanhas e que está situada perto da fronteira com a Albânia e Macedônia, uma fronteira que ninguém protege além das pedras, tudo é possível. As crianças despareceram de manhã, o que é muito estranho. Por exemplo, as meninas foram à loja e não voltaram", disse à Sputnik uma fonte que pediu anonimato.

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Contudo, de acordo com a mesma fonte, todo mundo sabe que os albaneses compram meninas jovens em Kosovo a fim de mais tarde as casarem. Além disso, os pais da comunidade pobre de Dragash mandam com frequência seus filhos à vizinha Albânia para trabalharem na agricultura, pois lá este tipo de trabalho é melhor remunerado. A fonte assegura que não ficaria surpreendida se os pais das crianças desaparecidas não tenham ido à polícia, porque todas essas práticas são ilegais.

"Há determinadas pessoas que negoceiam o trabalho ou casamentos de crianças de Kosovo. Aquelas que são contratadas para trabalhar, são levadas à Albânia em caminhões, depois as trazem de volta […] Se elas [as crianças] foram sequestradas, então é pouco provável que algum dos pais vá à polícia, eles vão provavelmente tentar encontrá-las por contra própria", disse a fonte.

Por sua vez, o ex-diretor da inteligência militar da Iugoslávia, Momir Stojanovic, assinalou à Sputnik que Berisha governou o país durante a agressão da OTAN contra Iugoslávia e em 1998, quando seu governo apoiou e treinou os terroristas do Exército de Libertação do Kosovo.

Stojanovic acredita que o ex-presidente resolveu divulgar as informações sobre alegados sequestros devido a motivos políticos.

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"Berisha conhece muito bem o que ocorria nos campos no norte da Albânia, no qual estavam sérvios sequestrados e albaneses leais a Belgrado [capital da Sérvia], bem como militares e policiais nossos capturados pelo Exército de Libertação do Kosovo. Segundo dados que o nosso exército recebeu, as pessoas lá desapareciam sem deixarem vestígios. Existem várias evidências que provam que essas pessoas foram mortas e seus órgãos foram transportados aos mercados da Europa ocidental […] Agora Berisha se dá mal com o premiê em exercício da Albânia, Edi Rama, e com as autoridades de Kosovo, e por isso mesmo ele resolveu comunicar que na região continua ocorrendo o comércio de órgãos", disse Stojanovic.

Os jornalistas albaneses questionados pela Sputnik, não conseguiram responder sobre os motivos de Berisha. Vários jornalistas albaneses de Kosovo confessaram que anteriormente já tinham ouvido rumores sobre alegados sequestros de crianças, mas ninguém escreveu sobre isso por não terem tido “confirmação por parte das autoridades correspondentes”.

Vale ressaltar que a Albânia e Kosovo foram mencionados no relatório do senador Dick Marty dedicado à "transplantação negra" nos Bálcãs. Contudo, os eventos descritos por Marty tiveram lugar no fim dos anos 90 — início dos 2000. Pela primeira vez a "transplantação negra", na qual alegadamente estavam envolvidos líderes de Kosovo, como por exemplo, o presidente atual, Hashim Thaci, foi mencionada no livro da ex-procuradora do Tribunal Penal Internacional, Carla Del Ponte.

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