Mulher de terrorista do Daesh: 'Meu marido me contou como queimaram um piloto vivo'

© Sputnik / Hikmet DurgunCampo de refugiados na cidade síria de Ayn Issa
Campo de refugiados na cidade síria de Ayn Issa - Sputnik Brasil
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Meyr Hisme é a cônjuge de um ex-terrorista do Daesh. Ela conseguiu escapar de Raqqa e hoje em dia se encontra em um campo na cidade de Ayn Issa, no norte da província de Raqqa.

O correspondente da Sputnik Turquia visitou a mulher e ouviu histórias verdadeiramente assustadoras.

© Sputnik / Hikmet DurgunMeyr Hisme, a mulher do ex-terrorista
Meyr Hisme, a mulher do ex-terrorista - Sputnik Brasil
Meyr Hisme, a mulher do ex-terrorista
O campo de refugiados de Ayn Issa é controlado pelas Forças Democráticas da Síria, compostas maioritariamente por unidades curdas. Ali estão alojadas 18 esposas de jihadistas do Daesh (grupo terrorista, proibido na Rússia. Entre elas há cidadãs de Turquia, França, Reino Unido, Tunísia e Egito.

Uma delas se chama Meyr Hisme e é casada com um cidadão da França de origem magrebina, Bilal bin Mugdat. Em uma entrevista para a Sputnik, a mulher apresentou os detalhes da vida da Raqqa jihadista e de sua rendição aos curdos. Ela confessa que tentava escapar de Raqqa para se reunir com sua família, que vive na Turquia.

"Vivia em Damasco. Meu primeiro marido foi combatente do Exército Livre da Síria. Faleceu devido a um ataque aéreo. Quando a guerra na Síria começou, meus pais se mudaram para a Turquia. Após a morte do meu primeiro marido, meus pais me mandaram dinheiro para que eu pudesse me encontrar com eles", conta Meyr Hisme.

"Fui a Raqqa para poder chegar à Turquia a partir daí. Uma amiga da cidade me convidou para morar com ela em sua casa até partir para a Turquia. Não sabia muito sobre a situação lá, então decidi ficar [na cidade] por um tempo", prosseguiu.

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De acordo com Hisme, ela precisava chegar à cidade de Tel Abjad, que está situada na fronteira turco-síria. Não obstante, durante a sua viagem os terroristas do Daesh cortaram a passagem dela. Os radicais disseram que não tinha direito a viajar sozinha e acrescentaram que a Turquia é um "país de infiéis", por isso lhe proibiram de seguir em frente. Como consequência, a mulher não teve nenhuma outra opção senão ficar em Raqqa, onde alugou uma casa.

"Logo conheci meu vizinho, seu nome era Bilal bin Mugdat: provinha do Magrebe, mas era cidadão francês. Me contou que antes tinha sido terrorista do Daesh com o nome de Abu Omer, mas se foi embora do grupo", disse a entrevistada.

Hisme recordou que um pouco depois Bilal lhe propôs se casarem assegurando-a que, desta forma, eles poderiam escapar ao Magrebe. A mulher aceitou a proposta porque, segundo explica, "era a única oportunidade para ela".

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Depois do casamento, os recém-casados decidiram fugir de Raqqa e pediram ajuda a pessoas que se ocupavam do transporte de pessoas através da fronteira. No entanto, o casal não tinha dinheiro suficiente, por isso não puderam fazer nada mais do que esquecer seu plano e ficar em Raqqa.

"Queríamos fugir para o Magrebe, mas os traficantes nos pediam $10.000 [cerca de 32 mil R$]. Não tínhamos tanto dinheiro, por isso não pudemos ir. Então nasceu o nosso bebê, e decidimos abandonar o nosso plano de uma vez por todas. Mais tarde descobrimos que essas pessoas não eram traficantes, mas terroristas do Daesh", lembra Hisme.

O marido de Hisme em várias ocasiões lhe relatava as torturas e assassinatos praticados pelo Daesh.

"Meu marido me contou como queimaram vivo um piloto jordaniano, e que sofreu muito por ter participado daquela execução. Ele não estava de acordo com os métodos usados pelo Daesh, dizia que só Deus tinha o direito de decidir o destino de uma pessoa. [Meu marido] se decepcionou com o grupo e decidiu sair do Daesh", concluiu a mulher.

A entrevistada relatou que Bilal escreveu uma carta a um comandante do Daesh em Raqqa pedindo para devolver seu passaporte. Mas eles se recusaram a fazê-lo, dizendo que o homem pode ter deixado de ser um membro do grupo, mas não tinha o direito de sair do território controlado pelo Daesh.

Segundo as palavras de Hisme, quando começou a operação de libertação de Raqqa, suas esperanças de escapar se renovaram.

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"As pessoas diziam: "Vão e se rendam. Teu marido saiu do Daesh. Os soldados das Forças Democráticas Sírias não vos farão nada de mal." Seguimos seu conselho e nos dirigimos ao posto de controle Havul Heva, na fronteira de Raqqa, onde nos rendemos aos soldados", declarou Hisme.

A mulher contou que, depois de sua rendição, os mandaram para a cidade de Kobani, onde passaram três dias. Ali, os curdos, os alojaram junto com os jihadistas do Daesh de origem malaia e suas famílias. Algum tempo depois, os curdos separaram os homens de suas mulheres e filhos.

Segundo a entrevistada, os jihadistas do Daesh ficaram presos em Kobani, enquanto as mulheres com seus filhos foram transferidos para Ayn Issa, onde vivem há um mês.

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