'Plano sujo' dos EUA para a Turquia: por que Washington e Ancara já não são aliados

© REUTERS / Joshua RobertsO presidente dos EUA, Donald Trump, conversa com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, na chegada entrada da Ala Oeste da Casa Branca, em Washington, EUA, em 16 de maio de 2017.
O presidente dos EUA, Donald Trump, conversa com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, na chegada entrada da Ala Oeste da Casa Branca, em Washington, EUA, em 16 de maio de 2017. - Sputnik Brasil
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Os interesses dos EUA e da Turquia no Oriente Médio continuam divergindo. O novo passo em direção oposta do seu aliado foi a decisão dos EUA entrar em um conflito com o Irã.

Gevorg Mirzayan, professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Finanças do Governo da Rússia esclarece o assunto no seu artigo para a Sputnik.

Ponto de ebulição

É assim que a mídia norte-americana caracteriza as relações atuais entre Ancara e Washington. Devlet Bahceli, líder nacionalista turco, por sua vez, afirma que a parceria estratégica entre os EUA e a Turquia pode acabar a qualquer momento. Ele aponta ao escândalo dos vistos que abalou as relações entre dois países e deu início ao afastamento.

O escândalo foi provocado por os EUA terem suspendido a emissão de vistos para cidadãos turcos. A retaliação norte-americana tem como contexto a detenção de Mehmet Topuz, funcionário do Consulado dos EUA em Istambul dias antes, acusado de ligações com o clérigo Fethullah Gulen, que, segundo Ancara, teria sido o responsável pela tentativa de golpe de Estado ocorrida em julho de 2016 na Turquia.

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Horas depois, a embaixada da Turquia em Washington informou sobre a suspensão de todas as emissões de vistos para não imigrantes em todas as representações diplomáticas turcas nos Estados Unidos.

Após a troca dessas medidas, Ancara, de acordo com o analista russo, avançou no conflito. O presidente turco declarou que os EUA são manipulados pelo embaixador em Ancara e imolam seu parceiro estratégico pelo embaixador, que "nem sabe seu lugar". O embaixador em questão é John Bass, foi ele que chamou a detenção do funcionário do Consulado de "tentativa de minar a velha cooperação entre a Turquia e os EUA".

Erdogan acrescentou ainda que os norte-americanos tentam destruir a Turquia por fora e por dentro e este é "o plano sujo de Washington", sublinhou líder turco.

Não toquem nos terroristas!

Mas nem Fethullah Gulen, Mehmet Topuz ou John Bass são culpados deste desentendimento entre Ancara e Washington. O núcleo das divergências está nos interesses diferentes dos dois países no Oriente Médio.

Primeiro, os americanos não estão de acordo com operação turca em Idlib, que Ancara está realizando segundo um convénio com Moscou, Teerã e Damasco e visa eliminar a Frente al-Nusra (organização terrorista, proibida na Rússia).

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Se para Turquia a Frente al-Nusra é um inimigo porque ameaça aos interesses turcos na zona de desescalada em Idlib, para os EUA este grupo terrorista virou parceiro forçado, porque depois do Daesh (grupo terrorista, proibido na Rússia), a Frente al-Nusra é o maior grupo capaz de fazer prolongar a guerra na Síria.

Levando em consideração que, em 13 de outubro, a administração de Donald Trump declarou o endurecimento da política relacionada ao Irã, parece que Washington está interessada no prolongamento do conflito sírio, destaca o analista. O fato de a Turquia ter mudado de lado neste conflito irrita muito os EUA.

Questão curda

Teoricamente, Ancara podia aproveitar o conflito crescente entre Washington e Teerã, por exemplo, para pedir mais concessões da parte dos russos, sírios e iranianos na Síria em troca da lealdade.

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Não é segredo que os EUA apoiam ativamente os curdos, principalmente no Iraque e Síria. Ancara vê no reforço dos curdos uma ameaça à segurança nacional turca. Entre alguns analistas, ainda permaneciam algumas esperanças de que os EUA pudessem ceder na questão curda. A Casa Branca não apoiou o referendo no Curdistão iraquiano e o preço das forças curdas sírias deverá cair aos olhos de Washington quando os curdos anunciarem a vitória sobre o Daesh em Raqqa, ou seja, depois da tomada da capital terrorista.

O conflito com o Irã aumenta a importância da carta curda para Washington. Os curdos sírios serão um contrapeso sério para Damasco pró-iraniano, enquanto o Curdistão iraquiano criará obstáculos para o Irã em termos de segurança. Nestes casos, os interesses da Turquia ficam em segundo plano.

Com quem fazer acordos?

A falta de atenção em relação aos interesses da Turquia deixa Erdogan insatisfeito. Ancara se mostra pronta a começar uma operação contra os curdos.

Os EUA tentam chegar a um acordo com a Turquia, mas Ancara não espera muito destas promessas. Talvez porque os EUA tenham manchado sua reputação com a ligação direta ou indireta à tentativa de derrubar presidente turco em 2016.

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"Durante os encontros cara a cara eles fazem promessas e dão garantias, ao mesmo tempo fazem um jogo sujo nas nossas costas. Estes jogos atingiram um ponto que já não podem ser escondidos", declarou Erdogan comentando seus parceiros ocidentais.

Deste modo, a Turquia aposta na Rússia e no Irã, nos países cujos interesses coincidem mais com os seus ou, pelo menos, não criam obstáculos. Isso significa que a parceria turco-americana vai continuar fervendo e se vaporizando.

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