A avaliação é do presidente da Associação Brasileira de Direito Internacional (ABDI), Wagner Menezes, que falou com exclusividade à Sputnik Brasil.
A OCDE — na qual o Brasil tenta ingressar há alguns anos, embora atue como país observador nos encontros — quer identificar as consequências que o contingenciamento de 44% das verbas do orçamento de custeio previsto para este ano vai dificultar ou enfraquecer as ações contra lavagem de dinheiro e pagamento de propinas.
Menezes diz que a cobrança da OCDE mostra que o Brasil está no centro das discussões e das preocupações internacionais. Segundo ele, do ponto de vista jurídico internacional, a cobrança tem apenas efeito moral, mas não deixa de ser preocupante.
"É mais uma escada que o país desce na sua política de relações internacionais, infelizmente. Não se deve atribuir isso a nossa diplomacia, que sempre fez e tem feito um trabalho excelente, mas de uma situação que todos nós, enquanto sociedade, estamos assistindo estarrecidos, vivemos nesse exato momento um desgoverno. Por mais que as pessoas tenham saído às ruas e mostrado sua indignação, não parece que sensibilizam aqueles que estão lá no poder, estabelecendo todo tipo de manobra para proteger sua própria pele", diz Menezes.
Na visão do presidente da ABDI, apesar de toda a reação da sociedade, alguns desses políticos continuam perpetrando práticas corruptas. Ele diz que, quando uma organização internacional como a OCDE lança uma cobrança como essa, isso deve ser visto como um reforço aos protestos da sociedade.
"Muita gente estabelecida em órgãos governamentais cita a repressão porque passa o povo da Venezuela. Nós aqui estamos nos sentindo da mesma forma: a corrupção mata tanto quanto a ditadura e os desmandos quanto aos direitos humanos. Estamos passando também por um processo de repressão. Moral. Estamos assistindo a um grupo que dominou as instituições e que há muito tempo tem perpetrado todo tipo de práticas que a sociedade condena e com total insensibilidade ao que a sociedade clama", afirma.
Para Menezes, o problema da corrupção é mundial. O problema, segundo ele, é que, no Brasil, houve uma perda absoluta de pudor. Ele também rebate a defesa feita comumente pelo governo de que, ao contrário da Venezuela, as instituições estão funcionando no país, mal, na sua avaliação. O presidente da ABDI também não poupa a oposição, "que há bem pouco tempo compunha esse atual governo".
"Estamos assistindo a inteira dissolução de todo tipo de representação política, se perdeu a legitimidade. Em nome da manutenção de uma pseudodemocracia, temos que aguar a previsível eleição do próximo ano para mudar a realidade dos fatos. O panorama que temos é desolador", finaliza Menezes.