Mísseis para os pobres: quem o país mais fechado no mundo arma e para quê

© REUTERS / KCNAKim Jong-un observa o lançamento de míssel intercontinental balístico realizado em 4 de julho de 2017
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Mísseis balísticos, lançadores múltiplos de foguetes, artilharia, lançadores de granadas, metralhadoras e munições – apesar das sanções e escândalos "nucleares" intermináveis, a Coreia do Norte, segundo os analistas, continua sendo um dos maiores produtores e vendedores de armas no mundo.

Por causa das restrições internacionais contra Pyongyang, este mercado passou à clandestinidade, mas não deixou de existir. Preços baixos, simplicidade e confiabilidade são a melhor publicidade às armas norte-coreanas, muito populares não só entre estados, mas também entre organizações não governamentais, tais como o Hamas e Hezbollah. A quem arma a Coreia do Norte e como a ajudam os EUA – podem ler neste material da Sputnik.

Mercado obscuro

Junto com o carvão e mariscos, as armas são uma das fontes principais de renda do orçamento da Coreia do Norte. Embora seja proibido ao país exportar armas, os canais ilegais continuam funcionando. Levando em conta que as armas produzidas pela Coreia do Norte são muito populares nos países do assim chamado terceiro mundo, especialmente aqueles que estão eles próprios sob embargo e que não podem adquirir legalmente mísseis e metralhadoras de outros fornecedores.

Assim, notam os analistas, asfixiando mais um estado com bloqueio econômico e o tornando "pária" de propósito, os EUA ampliam de fato a lista de potenciais "clientes" da Coreia do Norte. Isso refere-se também à própria Coreia do Norte – a imposição de sanções contra ela e o "corte" das fontes legais de renda (por exemplo, da venda do carvão para a China) obrigaram o país a "olhar cada vez mais para a alternativa" e a conquistar mercados obscuros, inclusive os das armas.

"Após a introdução das sanções, tornou-se muito difícil controlar os fornecimentos, nota o analista militar, especialista em Coreia do Norte e Irã, Yuri Lyamin. A Coreia do Norte não deixou de vender armas, mas com tudo isso aprendeu a esconder bem tudo o que está ligado ao processo. Claro que os compradores também não divulgam nada."

"De fato, ao impor restrições contra estes ou aqueles países, os norte-americanos de modo indireto estão formando um mercado de armas para a Coreia do Norte, além disso, praticamente ilimitado."

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Embora o volume anual das exportações não oficiais de armas da Coreia do Norte seja avaliado em mais de 100 milhões de dólares (cerca de 300 milhões de reais), ninguém sabe os volumes reais – todos os acordos são concluídos a nível bilateral entre a Coreia do Norte e o país interessado em regime de secretismo rigoroso.

"Em 2017, contra a Coreia do Norte foram introduzidas sanções drásticas, inclusive às vendas de muita matérias-primas e utilização de mão de obra no exterior. Isso deve ter um impacto grande nas suas exportações e pode incitar ao comércio ilegal de armas. Eles vão tentar ganhar dinheiro de qualquer modo", disse à Sputnik Yuri Lyamin.

Clones dos clones

"Os clientes da Coreia do Norte são atraídos pelos preços baixos, confiabilidade satisfatória e quantidade praticamente ilimitada das armas norte-coreanas. Este país vende praticamente tudo o que produz – de metralhadoras a lançadores múltiplos de foguetes. A maioria das armas de fogo individuais são clones das metralhadoras Kalashnikov soviéticas, ou clones dos clones chineses copiados, por sua vez, das soviéticas", acha Konstantin Makienko, vice-diretor do Centro Analítico das Estratégias e Tecnologias russo.

A Coreia do Norte produz em abundância armas de infantaria, inclusive lançadores múltiplos de foguetes e artilharia, sistemas de mísseis antitanque, fuzis de assalto, lançadores de granadas e munições para tudo isso. Sabe-se que a Síria comprava aos norte-coreanos projéteis para a artilharia de 130 milímetros.

Vale a pena destacar as tecnologias de mísseis, com as quais a Coreia do Norte ocupou uma posição única no mercado. Nos anos 80, os especialistas norte-coreanos conseguiram por eles próprios copiar o sistema tático-operativo de mísseis R-17 Elbrus com o míssil balístico 8K14 (Scud, na classificação OTAN). Os protótipos foram adquiridos ao Egito. Os mísseis clonados foram rapidamente colocados à venda, e se conhecem fatos de serem fornecidas linhas inteiras para montagem deles.

As cópias dos mísseis R-17 foram compradas à Coreia do Norte por países tais como o Irã, Síria e Iêmen. O alcance dos primeiros mísseis não superava 300 quilômetros, mas depois os norte-coreanos conseguiram desenvolvê-lo para ter um alcance de 600 quilômetros e, por fim, criaram o míssil de médio alcance Nodong capaz de transportar a ogiva à distância de até 1.300 quilômetros. Estes mísseis podem ser equipados com ogivas convencionais, nucleares ou químicas.

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Na guerra entre o Iraque o Irã, mais de 90% dos mísseis lançados pelo Irã de produção norte-coreana atingiram seus alvos. A percentagem de falhas era mínima, o que prova a alta qualidade dos mísseis. Mais tarde, o Scud foi copiado pelo Irã, chamando a sua versão de Shahab-3. Agora ele, com ajuda dos norte-coreanos, começou sua própria produção e já não compra os mísseis, limitando a cooperação à esfera tecnológica.

A situação é interessante porque, por causa dos acordos internacionais, os grandes produtores de sistemas de mísseis não podem vender sistemas com alcance superior a 300 quilômetros. Pyongyang não está sujeito aos acordos e para muitos países se tornou monopolista nessa área.

Os sistemas de mísseis e artilharia antinavio, supostamente de produção norte-coreana, foram várias vezes avistados nos navios de Mianmar. Nada de oficial foi dito sobre os fornecimentos, mas eles são iguais aos sistemas instalados nas lanchas norte-coreanas.

O preço das armas é baixo por causa da produção maciça. A Coreia do Norte tem praticamente sempre sua indústria em "estado de guerra". Além disso, não tem problemas com os recursos. Em muitos aspetos, é por isso que se está desenvolvendo o programa nuclear – suas jazidas de urânio são muito ricas.

Do Egito a Mianmar

Quanto à geografia, os principais compradores são os países que não precisam de intermediários ou divulgação. Os parceiros tradicionais são o Irã, Síria, Cuba, Líbia, Iêmen, Egito, Uganda, Congo e alguns outros. Além disso, foram vendidas armas a organizações militarizadas não governamentais, tais como o Hamas ou Hezbollah.

"A Coreia do Norte precisa de dinheiro. O que eles podem oferecer ao mundo para além do carvão para a China e mão de obra barata? Somente armas. Os seus compradores são Estados párias do terceiro mundo, sufocados pelas sanções norte-americanas e pelo bloqueio econômico. Ou, às vezes, organizações não governamentais, tais como oposições armadas, companhias militares privadas etc.", disse Makienko à Sputnik.

As armas são transportadas habitualmente por via marítima, pois a aviação requer frequentemente reabastecimentos de combustível em países de trânsito. Isso é perigoso, porque o avião pode ser examinado e detido. Nesse sentido, é mais simples com navios sob bandeira norte-coreana.

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"Parar um navio com bandeira norte-coreana em águas neutrais não é fácil, tal tentativa pode acarretar graves consequências porque os norte-coreanos defendem rigorosamente sua soberania. Se o navio prossegue diretamente da Coreia do Norte para o país de destino, a sua paragem a fim de examinar a carga pode ser considerada como ato de agressão contra a Coreia do Norte com todas as consequências graves", notou Lyamin.

Apesar de todas as precauções, já aconteceram incidentes com paragem de navios. Por exemplo, nos anos 2000 rebentou um escândalo internacional – no oceano Índico foi parado um navio de transporte com mísseis balísticos para o Iêmen. As limitações às exportações de armas da Coreia do Norte ainda não tinham entrado em vigor, por isso foi exigido que deixassem passar o navio e o Iêmen ao final recebeu a carga. Também é conhecido um caso no mar Vermelho, quando foi parado um navio que se dirigia ao Egito com lançadores de granadas e respectivas munições.

Às vezes as autoridades da Coreia do Norte usam a ajuda dos intermediários – no Médio Oriente e na Ásia do Sudeste o país tem muitos representantes.

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