Contudo, aconteceu que nesta semana, antes da viagem, foram divulgados milhares documentos do Departamento do Estado comprovando que a diplomacia norte-americana participou da matança de centenas de milhar, talvez mesmo de um milhão, de pessoas na Indonésia nos anos de 1965-1966.
Parece ser uma história antiga. Porém, sabemos que, às vezes, eventos até mais antigos como, por exemplo, a Segunda Guerra Mundial, definem muita coisa na política atual. Revelam e recordam a atitude de nações e países. Fazem pensar se alguma coisa mudou ou não.
'Mudança fantástica'
Vale ressaltar, que a mídia norte-americana não prestou muita atenção a estas informações, além do The New York Times. Contudo, na Ásia repararam muito nessa história, por exemplo, na publicação da muito prestigiada edição South China Morning Post.
Assim, estamos falando dos eventos de 1965. Na enorme Indonésia (cuja população agora conta com 265 milhões de pessoas) o cargo de presidente era ocupado por Sukarno, com posições antiamericanas, que tinha relações complicadas, mas não as piores, com o partido comunista, que contava com vários milhões de militantes. Aconteceu o golpe militar, o exército isolou Sukarno, e começaram as repressões em massa contra os comunistas.
Agora, vamos ver a situação a partir do ponto de vista norte-americano: na Indochina já está decorrendo a guerra, isto é, uma guerra contra o comunismo internacional. O inimigo nela é a China, mas também a União Soviética e outros países. E aí aparece uma perspectiva real da "comunização" final de mais um gigante asiático, sua transformação em um aliado chinês: só faltava isso.
Agora estamos lendo como os diplomatas norte-americanos em Jacarta informam o Departamento de Estado: "uma mudança fantástica ocorreu em apenas algumas semanas" – na verdade, já foram mortas até 100 mil pessoas. Mais um telegrama: "não sabemos sinceramente do que se aproxima o número real, dos 100 mil ou de 1 milhão".
Já mais perto do final da história, em 1968, um funcionário do serviço de inteligência indonésio conversou com mais um diplomata norte-americano. O diplomata confirma que seu governo faz todos os esforços a fim de evitar que a mídia controlada pelos EUA divulgue essas informações.
De acordo com os documentos que já foram revelados, é evidente que os diplomatas sabiam sobre a escala das matanças por todo o país. Seria interessante saber se eles apenas sabiam, ou se alguém terá participado ativamente da elaboração das operações.
Países fortes e prósperos – isso é ruim
E eis que a missão acabou. Na Indonésia subiu ao poder o general Suharto, que virou o melhor amigo dos EUA, iniciou compras de armas norte-americanas, autorizou a entrada ao país de investidores norte-americanos e de outros países. Adivinhe o que aconteceu depois: 30 anos mais tarde os EUA não apenas se livraram de Suharto, mas participaram de um verdadeiro "massacre" da Indonésia.
A crise, ou mesmo a catástrofe, de mais um milagre asiático recente, durou por 10 anos e apenas agora acabou.
É provável que logo possa ser revelado algum documento de 1999 com conteúdo semelhante: os EUA não precisam de nações fortes e influentes. A União Soviética já foi destruída, a Iugoslávia está sendo destruída, só resta colocar a Indonésia no lugar dela e apontarmos à China. Só porque eles vivem bem demais. E o fato de Suharto ter sido nosso amigo não significa nada […].
Ao contrário de Muammar Kadhafi, que foi tonto por entrar em alguns acordos com os EUA e o Ocidental em geral, o general Suharto pelo menos morreu de morte natural, em 2008. Também, podemos recordar as histórias dos presidentes Hosni Mubarak no Egito, Marcos nas Filipinas… Tudo é igual: primeiro eram amigos e aliados, depois viraram ditadores e malandros. Assim, é difícil ser o melhor amigo dos EUA, isso é mesmo mortal.
Será que tudo isso significa que, não apenas a Coreia do Norte, mas que nenhum país deve fazer quaisquer acordos com os EUA? Não é assim. Mas é preciso levar cuidadosamente em conta como estes acordos são cumpridos, bem como entender quem é o seu parceiro.