Liderada pelo ugandense George Okoth-Obbo, Alto Comissário de Operações do Acnur para o Mundo, e pela italiana Renata Dubini, diretora do Acnur para as Américas, a missão iniciou seus trabalhos de observação por Manaus, no Amazonas, e prosseguiu na segunda e na terça-feira por Roraima, passando pela capital, Boa Vista, e pela cidade de Pacaraima, a mais próxima cidade brasileira na fronteira com a Venezuela.
Nesta quarta e na quinta-feira, a missão cumprirá agenda em Brasília tratando com representantes do governo federal de questões relacionadas às migrações venezuelanas.
De acordo com Luiz Fernando Godinho, porta-voz do Acnur no Brasil, a delegação esteve em Trinidad e Tobago, Colômbia e Venezuela antes de chegar ao Brasil. De Pacaraima, onde acompanha os membros da missão, Luiz Fernando Godinho falou com exclusividade para a Sputnik Brasil sobre os objetivos da viagem.
"Essa visita à Roraima por parte do Acnur faz parte de uma agenda maior que está sendo feita pelo Sr. George Okoth-Obbo e também pela Sra. Renata Dubini. Ambos estão visitando a região para conhecer de perto a situação de deslocamento dos cidadãos da Venezuela para países vizinhos, encontrar-se com nossos parceiros da sociedade civil e do governo e, com isso, entender melhor quais são as necessidades, e como podemos ampliar nossa presença e a nossa resposta às situações nestes países. Ou seja, não é uma missão apenas no Brasil mas sim nos países vizinhos à Venezuela", explicou.
Godinho também comentou as remoções de venezuelanos que estavam instalados próximos à Rodoviária Internacional de Boa Vista, retiradas estas que aconteceram por iniciativa das autoridades de Roraima. Para o porta-voz, o objetivo das autoridades é melhorar as condições de vida dos venezuelanos ao instalá-los em abrigos.
"Na verdade, foi menos uma remoção e mais uma realocação dessas pessoas que já se encontravam há bastante tempo ao relento na área externa da Rodoviária Internacional de Boa Vista. Essas pessoas foram realocadas para um ginásio da capital de Roraima que está funcionando agora como um abrigo para elas. Foi um momento bastante complexo, esse de realocação de pessoas, porque o ginásio ainda não estava totalmente preparado para recebê-las mas, desde esse primeiro dia, nós do Acnur, as autoridades estaduais de Roraima e os nossos parceiros da sociedade civil temos atuado nesse novo abrigo para poder melhorar as condições das pessoas que se encontram lá", revelou.
Origens e motivações
Segundo o porta-voz, as autoridades de Roraima tiveram o cuidado de separar os migrantes em dois grupos: indígenas e não indígenas.
"Foi feita uma divisão entre os venezuelanos que buscam refúgios no Brasil, especialmente, em Roraima. Não indígenas foram levados para o novo abrigo enquanto os indígenas, da etnia Warao, foram conduzidos para o antigo abrigo. Então, já foi feita essa separação, o que é bom para questões de convivência e segurança. Agora, nós do Acnur estamos trabalhando com as autoridades locais para melhorar as condições desses abrigos", afirmou.
Godinho fez ainda uma estimativa sobre a quantidade de pessoas acomodadas nos abrigos de Roraima.
"Esses dois abrigos reúnem, aproximadamente, alguma coisa entre 800 a 900 pessoas. Em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, foi inaugurado um terceiro abrigo, dedicado exclusivamente à população indígena da etnia Warao. É um abrigo que hoje conta com cerca de 170 pessoas e terá capacidade para abrigar até 250", contou.
O porta-voz apontou diversas razões para os refugiados da Venezuela deixarem seu país. Segundo ele, o fluxo de venezuelanos pode ser considerado misto, com cidadãos daquela nação deixando o país por razões diferentes, desde econômicas, políticas e sociais, até mesmo por perseguição.
Godinho declarou ainda que, segundo dados repassados pelo governo brasileiro, mais de 20 mil pedidos de refúgio já foram feitos por venezuelanos que estão no Brasil – a grande maioria dos pedidos foi feito em Roraima, mas há pedidos feitos no Amazonas, São Paulo e Rio de Janeiro. As origens desse contingente pode ser dividida em dois grupos.
"O que podemos depreender dessa situação é que existem dois grandes grupos – indígenas e não indígenas – formando uma população bastante heterogênea. Existem crianças, homens e mulheres de diversas faixas etárias, há idosos, há pessoas com necessidades específicas, e nós estamos tentando, junto com estes nossos parceiros da sociedade civil e autoridades governamentais, responder à essas necessidades da melhor maneira que nos for possível", ressaltou.
Da sua parte, os indígenas venezuelanos também apontaram suas razões para vir ao Brasil. "Eles alegam maior dificuldade de sobrevivência em seu país. Como sabemos, são grupos mais vulneráveis, que dependiam de uma assistência um pouco maior dentro da Venezuela. E essa assistência os indígenas venezuelanos dizem estar encontrando no Brasil", finalizou Godinho.