Uma destas vozes é o vice-ministro sul-coreano de Relações Exteriores, Lim Sung. Em um encontro com o Comitê de Relações Exteriores e Unificação da Assembleia Nacional da Coreia do Sul, ele afirmou que, embora existam contatos entre Washington e Pyongyang, não ocorreu nenhum avanço durante o período em que Trump esteve na região.
"Intercâmbios e contatos são regularmente realizados entre os EUA e a Coreia do Norte através de um canal de Nova York, e há também uma variedade de contatos através da chamada faixa de 1,5 ou troca acadêmica. No entanto, não há progresso detalhado a ser observado", disse Lim, citado pela agência sul-coreana Yonhap.
O chamado "canal de Nova York" envolve as trocas entre as missões diplomáticas dos dois países nas Nações Unidas, cuja sede fica na cidade estadunidense.
A posição do diplomata contrasta com o que Trump disse na sua passagem por Seul. Na terça-feira passada, o presidente dos EUA indicou que conversas diretas com o governo norte-coreano teriam acontecido, mas não deu maiores detalhes sobre o tema.
"Eu vejo certo movimento, sim. Mas vamos ver o que acontece", resumiu o republicano. "Eu realmente acredito que é sensato que a Coreia do Norte chegue à mesa e faça um acordo que seja bom para as pessoas da Coreia do Norte e para as pessoas do mundo".
Outro indicativo que pode ter dado base ao que Trump disse foi a avaliação do secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, afirmou na passagem da delegação norte-americana por Pequim, na China. Lá, ele garantiu ter tido acesso a dados da diplomacia chinesa que comprovariam que as sanções impostas a Pyongyang “estão começando a fazer efeito”.
Na visão de Lim, o fato da Coreia do Norte permanecer em silêncio há dois meses quando o tema envolve testes balísticos e nucleares pode reforçar a tese de que há tratativas nos bastidores entre os dois países – ainda que Trump não tenha sido mais específico quanto ao que queria dizer.
"Poderia ser avaliado que os esforços e a abordagem dos EUA em relação à Coreia do Norte estão produzindo um certo grau de resultados. Eu suponho que o Trump pode ter insinuado algum tipo de progresso, embora não fosse específico, com base nesta avaliação", opinou o vice-ministro sul-coreano.
Menos chance de guerra
A evolução no campo diplomático também animou o ex-embaixador dos EUA em Seul, Mark Lippert. Na sua análise, o seu país parece hoje menos propenso a se engajar em um conflito militar com a Coreia do Norte, sobretudo pelo tom mais ameno da retórica de Trump durante a sua passagem pela Ásia.
"Ele [Trump] abriu a porta de volta ou pelo menos esclareceu sua posição de que ele estava interessado em negociações. Nos últimos três meses, meu prognóstico da ação militar foi maior porque parecia que as negociações estavam fora da mesa e o assessor de segurança nacional estava dizendo em público que a dissuasão e outras formas de contenção não são opções viáveis", comentou à Yonhap.
Indicado para a Embaixada estadunidense na Coreia do Sul pelo ex-presidente Barack Obama, Lippert acrescentou que a visita de Trump ajudou a fortalecer os laços entre os dois países, o que permite que seja estabelecida uma linha de ação para lidar com o governo de Kim Jong-un sem grandes sobressaltos.
"Se você não conseguir manter uma boa relação da aliança EUA-República da Coreia, é praticamente impossível executar uma estratégia eficaz para a Coreia do Norte nos dias de hoje", concluiu.