A Sputnik Mundo dialogou em exclusivo com Iván Fernando Mérida, que realizou uma investigação do papel de Brennan nos acontecimentos na Bolívia, Nicarágua e Costa Rica.
Desde 2014, Peter Brennan é o diplomata estadunidense de maior grau acreditado na Bolívia. Mérida, advogado internacional com mestrado em Direito Internacional, se encarregou de estudar em profundidade as publicações do WikiLeaks, bem como os e-mails oficiais enviados para Hillary Clinton que havia no seu servidor pessoal.
Segundo indicou Mérida, "havia muitas suspeitas em relação a Brennan, mas não havia nenhuma investigação que o tivesse como alvo", exceto alguns artigos de analistas e referências a suas atividades em outros sítios.
"Tudo se limitava a meras suspeitas e suposições. Brennan conseguia constantemente refutar as alegações de que tinha motivos políticos, chamando-os de ‘exageros infundados'", contou o especialista.
Os frutos do trabalho de Mérida foram publicados no seu livro "Brennan Desmascarado", que inclui dados recolhidos pelo investigador desde o último "impasse" nas relações entre o diplomata e o governo em agosto de 2017, quando Brennan disse à mídia que "espera que a Bolívia não fique na mesma situação que a Venezuela".
Nicarágua
Mérida comentou à Sputnik que de todas as informações, "não só classificadas, mas abertas também", se pode resumir que durante a sua estadia em Nicarágua (2005-2007) Brennan conduziu uma política ativa de encontros com empresários e grupos ligados à Aliança Liberal, opositora da Frente Sandinista de Liberação Nacional, atualmente no poder.
"Os laços eram tão estreitos que, quando surgiu a necessidade de despedir dois altos funcionários do Ministério da Defesa da Nicarágua, a embaixada dos EUA ficou indignada", contou.
"O relatório dizia que estes dois quadros tinham sido preparados nos EUA e que, graças à embaixada, eles não foram removidos do ministério e que eles entregavam dados importantes que já seria difícil de obter após sua saída", resumiu Mérida.
O investigador também destacou as tentativas de prejudicar a imagem de Daniel Ortega por parte do embaixador estadunidense Paul Trivelli, usando os motivos de um alegado assédio sexual contra sua enteada, Zoilamérica Narváez, que recebia dinheiro dos norte-americanos e viajou para Washington, onde lhe pediram para testemunhar contra seu padrasto.
Costa Rica
Entre 2007 e 2010, Brennan foi vice-chefe da missão estadunidense na Costa Rica. Alguns trechos do livro revelam, sobretudo, suas críticas em relação ao governo de San José, Cuba ou Venezuela.
"Ele também apoiou a [ex-presidente] Laura Chinchilla, porque ela estudou nos EUA, na Universidade George Washington, e se manifestava a favor da política estadunidense", ressaltou Mérida.
Cuba
Brennan, por sua vez, poderia ter lhe assistido nas tentativas de "desestabilizar" a nação cubana, embora a investigação ulterior tenha sido impedida pela "impossibilidade de discutir a questão" por parte das autoridades do país.
Bolívia
Após esse papel, que Brennan desempenhou em Washington entre 2010 e 2012, ele trabalhou no Paquistão com a tarefa de "recuperar a imagem dos Estados Unidos após a morte de Osama bin Laden em Abottabad".
Lá, Brennan encoraja programas de bolsas de estudo, cria empregos com programas da USAID e aumenta a cooperação. O mesmo sistema de influências ele aplicará na Bolívia após sua chegada em 2014.
De acordo com Mérida, os dados recolhidos deixam claro que "ele estava tentando obter informações muito sensíveis sobre personalidades do governo e da oposição".
Entre as figuras mais influentes que ele conheceu estava o jornalista Carlos Valverde, que escreveu sobre o "escândalo Zapata", um suposto filho extramarital do presidente Evo Morales.
"A evidência mais forte da possível interferência e ingerência de Brennan na política boliviana é a reunião com Valverde. Um mês depois da reunião, Valverde publica a respectiva matéria", disse Mérida.
O paralelismo entre o caso de Zoilamérica Narváez na Nicarágua e o caso na Bolívia é inevitável, na opinião do especialista: ambos os escândalos são vantajosos para os EUA e afetam a imagem dos líderes não alinhados com as políticas de Washington.
Em 2008, o governo boliviano expulsou do país o então embaixador dos EUA, Phillip Goldberg, por suas ações de "poder duro" que incitaram à violência na Bolívia e ameaçaram a integridade do Estado. A ação de "poder suave" de Brennan "foi muito mais eficiente, porque acabou danificando a figura de Morales".