Falando com exclusividade à Sputnik Brasil, o representante do Greenpeace exemplifica a análise com o caso da Polônia que, em 2018, vai sediar outra conferência sobre o clima, apesar de o país ser ainda hoje um dos maiores produtores de carvão mineral, combustível considerado como o mais nocivo em termos de gases que provocam o aquecimento global. Com relação ao Brasil, Telles diz que o país ainda tem uma longa agenda de compromissos a ser cumprida em relação à proteção ambiental, apesar de alguns avanços pontuais registrado nos últimos meses, como a redução do desmatamento.
Na Alemanha, o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, justificou a pretensão brasileira pela longa tradição que o país tem em debates globais sobre questões ambientais, desde a realização da Rio 92 e outros grandes eventos sobre o tema. Segundo o ministro, o Brasil reduziu o desmatamento em 28%, sendo a maior parte na Região Amazônica desde o início do ano.
"O que se vê hoje no Brasil é que políticas ambientais se tornaram uma moeda de troca no Congresso de uma maioria ruralista, com objetivos muito claros, um governo frágil, que está negociando tudo que pode para se manter no poder", diz o especialista.
Telles admite que, nos últimos meses, aconteceu uma queda no nível de desmatamento, mas de uma forma muito mais conjuntural do que estrutural, isso porque há uma tendência de aumento nos últimos quatro, cinco anos. Segundo ele, o Brasil reduziu muito o desmatamento entre 2002 e 2012, mas de lá para cá a tendência foi de estabilização e depois de novo aumento, e nada indica que vá voltar a cair no longo prazo.
Com relação à China, que vem sendo apontada por especialistas como sendo um dos países que deram uma grande guinada, partindo para busca de fontes alternativas de energia, Telles diz que são muito poucas as semelhanças entre o Brasil e o país asiático.
"A China tinha uma participação enorme do carvão em sua matriz. No Brasil, a participação de carvão não é muito grande em termos de geração de energia, não chega nem a 10%, mas é muito desproporcional em termos de geração de poluentes. Na verdade, o investimento em carvão hoje é muito irracional, mas tem uma força política considerável, principalmente no Sul do país. Está no hora de o Brasil acabar com o carvão. O BNDES, já no ano passado, anunciou que parou de financiar carvão no país. Está na hora de o governo falar que, nos próximos leilões de energia, carvão não será opção", afirma o especialista do Greenpeace.
Com relação aos subsídios de R$ 1 trilhão que o governo brasileiro pretende oferecer às empresas petrolíferas, nos próximos 25 anos, como incentivo à produção no pré-sal, Telles diz que essa política é incompatível com os compromissos ambientais assumidos pelo Brasil junto à comunidade internacional.
"O Acordo de Paris apontou claramente para o fim dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás). Os investimentos em combustíveis fósseis na prática já se mostram muito menos inteligentes do que se prometia, com retorno menor em muitos casos. É claro que a gente não vai, de um ano para o outro, acabar com o petróleo. Ele é uma parte elementar da sociedade e da economia brasileira, mas suas coisas são necessárias."
A primeira mudança, na visão do especialista do Greenpeace, é que novas fronteiras de petróleo não são mais aceitáveis.
"Temos acesso a bem mais petróleo do que poderíamos explorar, se quisermos nos manter abaixo de 1,5 grau Celsius de aquecimento. A segunda é que o governo tem que ter um plano claro de como vai descontinuar essa fonte. O investimento em petróleo no Brasil nos próximos anos representa 70% do total em energia e isso tem que mudar", finaliza Telles.