Conheça Chaltyr, povoado armênio na Rússia que tem o melhor churrasco no país

© Sputnik / Ekaterina NenakhovaGrupo folclórico de música tradicional, Ani, no povoado armênio de Chaltyr, na Rússia
Grupo folclórico de música tradicional, Ani, no povoado armênio de Chaltyr, na Rússia - Sputnik Brasil
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Nas vésperas da Copa do Mundo 2018 na Rússia, as agências de viagens de todo o país estão se debruçando sobre os percursos mais interessantes para os visitantes estrangeiros. A Sputnik Brasil viajou para a região russa do Don e descobriu lá uma pequena "Armênia", onde a gente pode provar os pratos de carne mais requintados do país.

A Copa do Mundo de 2018 será, sem dúvida, uma oportunidade única para combinar a paixão pelo futebol e o desejo de conhecer novas culturas para muitos aqueles que sempre sonharam em visitar a Rússia, mas nunca ousaram se lançar nessa aventura. Nesse sentido, o país eslavo é um lugar muito especial para qualquer turista por reunir centenas de tradições, nações e culturas em um território só.

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Já a região do Don, ou seja, a parte sul da Rússia, é uma das áreas mais ricas nesse aspecto, pois historicamente tem albergado representantes de todas as nacionalidades, desde povos da Europa Ocidental até os caucasianos, em grande parte por ser uma zona atrativa para os comerciantes.

Consequentemente, a cidade de Rostov-no-Don, que será uma das anfitriãs dos jogos da Copa 2018, fez todo o possível para proporcionar a seus visitantes toda o gama de impressões e rotas: uma delas é o povoado armênio de Chaltyr, coração gastronômico da área.

De onde vem essa comunidade na Rússia?

Por mais multiétnica que a Rússia seja, muitos podem ficar surpreendidos com a existência de tais povoados autênticos no país, dado que estes até hoje preservam sua língua, tradições e peculiaridades culturais. De fato, a aldeia de Chaltyr foi fundada em 1779 na sequência de uma série de eventos bastante dramáticos para o povo armênio.

A coisa é que, no início do milênio passado, a capital medieval armênia, Ani, foi muitas vezes assaltada por invasores estrangeiros, inclusive turcos. Em resultado de uma destas invasões, o povo da área foi obrigado a buscar outros territórios para ficar, tendo se deslocado para a península da Crimeia, por exemplo.

Aqui, vale relembrar o papel desse território na história russa. Por vários séculos, desde 1475, a região estava sob o jugo dos turcos e tártaros, devendo a população armênia, que é cristã, pagar grandes tributos. Os armênios eram ainda alvo de perseguição violenta por parte dos muçulmanos.

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Porém, já em 1774, após a vitória na Guerra Russo-Turca, a Crimeia passou a ser independente, se reunindo logo com a Rússia, o que proporcionou a Moscou a saída para um mar estratégico — o mar Negro — e novas terras ricas em recursos. Entretanto, para se estabelecer na região do Don, o governo precisava de empreender vários esforços — inclusive deslocar a população cristã (como a armênia) da Crimeia.

Deste modo, as autoridades conseguiram matar dois coelhos ao mesmo tempo — por um lado, enfraquecer o Canato da Crimeia e fazê-lo se submeter completamente ao Império e, segundo, povoar as terras férteis do Don. Por isso, a imperatriz Catarina II não demorou em emitir um decreto, de acordo com o qual mais de 12 mil armênios se deslocaram da Crimeia para o Don (junto com 18 mil gregos).

Preservando as culturas

Claro que, para muitos, esse evento histórico foi e continua sendo uma questão polêmica.

Obviamente, depois de viverem séculos em um lugar, tendo casas, famílias e propriedades, os armênios não acharam nada fácil ter que se mudar para outras terras desconhecidas e desabitadas. Sofreram grandes privações, mas, logo após a deslocação, receberam todo o apoio por parte do governo e começaram a construir uma vida nova.

Sendo o povo armênio muito religioso, a primeira coisa que fizeram após chegarem às novas terras foi começar a desenhar e construir igrejas, contou aos jornalistas o padre local. Durante os anos da Grande Guerra pela Pátria (parte da Segunda Guerra Mundial, compreendida entre 22 de junho de 1941 e 9 de maio de 1945, e limitada às hostilidades entre a União Soviética e a Alemanha nazista e seus aliados), a igreja local foi fechada a até ficou com alguns frescos e ícones atingidos por balas, mas hoje em dia funciona como sempre com algumas obras de restauração.

© Sputnik / Ekaterina NenakhovaPadre local conta aos jornalistas sobre a história de construção da principal igreja em Chaltyr
Padre local conta aos jornalistas sobre a história de construção da principal igreja em Chaltyr - Sputnik Brasil
Padre local conta aos jornalistas sobre a história de construção da principal igreja em Chaltyr

Uma das peculiaridades do Império Russo era inclusive a autonomia que se dava às diferentes comunidades e grupos étnicos no país. Desse modo, o governo russo, digamos, conseguia "utilizar" as capacidades e pontos fortes de várias nações, concedendo-lhes certas preferências ou oportunidades em troca.

Em sequência, os armênios do Don, por exemplo, conseguiram conservar até hoje sua identidade cultural, mas sempre manifestaram lealdade ao governo russo, expressando isso inclusive durante várias guerras, como a guerra contra Napoleão e ambas as guerras mundiais.

© Sputnik / Ekaterina Nenakhova Uma parte da exposição no museu regional de Chaltyr sobre o período da Segunda Guerra Mundial
Uma parte da exposição no museu regional de Chaltyr sobre o período da Segunda Guerra Mundial - Sputnik Brasil
Uma parte da exposição no museu regional de Chaltyr sobre o período da Segunda Guerra Mundial

Copa 2018 — oportunidade inédita para os turistas

Para um turista que vier à Rússia pela primeira vez e, particularmente, para a região do Don, seria indispensável conhecer não só a própria cidade de Rostov, como seus arredores, sendo que as curiosidades da área, como o próprio Chaltyr ou as terras dos cossacos, ficam bem pertinho da cidade, levando apenas uma hora de ônibus para chegar.

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Para isso, as autoridades locais têm se debruçado sobre a criação da respectiva logística. Por exemplo, foi elaborada uma lista de 10 rotas em Rostov-no-Don e em seus arredores, dado que todas as viagens terão seu começo na "zona dos fãs" em pleno coração da cidade.

Além do enriquecimento cultural, o povoado armênio tem muito mais para oferecer — inclusive seu grupo folclórico de música tradicional, Ani, que ganhou vários prêmios por todo o mundo e continua contribuindo para a conservação das tradições dos seus antepassados.

Entretanto, uma coisa que sempre atraiu a maioria dos turistas à região é, claro, o churrasco e o kebab, que já viraram legendários entre os turistas. Claro que a pequena Armênia na Rússia tem muito mais que gastronomia para surpreender os visitantes da região, mas quando vier para a Copa do Mundo 2018, não te esqueça de seguir o conselho da Sputnik… e se deslumbrar com o churrasco de Chaltyr, que não é nada pior que o brasileiro.

Confira as outras partes da reportagem da Sputnik Brasil para saber o que fazer para se divertir em Rostov durante a Copa 2018

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