O episódio aconteceu com Carolina dos Santos em 2000, quando ela tinha 17 anos. O tiro que recebeu a deixou paraplégica. Ela conta que passou 13 anos "carregando o sentimento de culpa" até entender que era a vítima de tudo o que aconteceu, e não culpada.
"O tema da violência era algo muito distante da realidade das mulheres naquela época, então infelizmente não consegui identificar os sinais que ele vinha dando desde o início da relação. A relação era desgastante, ele me sufocava, me dominava, controlava minhas roupas, meus passos, me levava e esperava na parada. Eu era vigiada e achava que aquilo era um cuidado", afirmou Carolina em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil.
16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres da ONU
A violência de gênero não deixou de ser um problema da sociedade brasileira.
No nordeste, 27% de todas as mulheres com idades entre 15 e 49 anos já foram vítimas de violência doméstica ao longo da vida e 17% delas foram agredidas fisicamente pelo menos uma vez na vida. O levantamento faz parte da campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem início neste sábado (25).
Os números são da pesquisa "Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (PCSVDFMulher)", que entrevistou mais de 10 mil mulheres nas nove capitais nordestinas.
Os dados sobre a violência contra a mulher não param por aí. Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos 10 anos mais de 47 mil mulheres foram assassinadas no Brasil. Já o Instituto Maria da Penha afirma que a cada 7,2 segundos uma mulher é vítima de violência física.
Carolina dos Santos diz que a situação das mulheres cadeirantes é ainda mais complexa:
"Na época [da agressão] não houve nenhum acolhimento, nada. Comparando com a realidade de hoje, nós mulheres com deficiência, estamos um pouco distante [do ideal]. Se você for procurar uma delegacia aqui em Porto Alegre, é agora que a cidade está querendo se adaptar. Não tem estrutura física, arquitetônica, para que a mulher cadeirante chegue. Não tem atendimento humanizado, como que eu vou lidar com essa situação?"
Raça e gênero
A representante da ONU Mulheres Brasil destaca outra característica da violência contra a mulher. Nadine Gasman afirma que existe uma interação entre sexismo e racismo no Brasil. "Os dados devem motivar políticas de combate ao racismo, a gente precisa olhar essas duas áreas".
A pesquisa "Violência doméstica e seu impacto no mercado de trabalho e na produtividade das mulheres" mostrou que 6% das mulheres sofreram algum tipo de violência enquanto grávidas — e 77% destas vítimas são negras. Além disso, 24% das mulheres negras vivenciaram a ocorrência de violência doméstica contra suas mães, enquanto a mesma situação foi vivenciada por 19% das mulheres brancas.
Denuncie
Carolina Santos, que passou a registrar sua experiência no blog "Sobre Rodas", acredita que precisamos lutar contra a omissão diante da violência contra a mulher.
"É aquele ditado: 'em briga de marido e mulher não se mete a colher'. Até que eu mesma entendi que estava sofrendo uma violência. Até hoje é assim."