Pelo menos duas datas em outubro eram tidas como prováveis momentos de novos testes – fossem balísticos ou até nucleares – de Pyongyang, que neste ano realizou a maior série de lançamentos de mísseis de sua história, assim como conduziu o mais potente teste nuclear (o sétimo da história do país), que teria sido com uma bomba de hidrogênio.
Embora até mesmo a saúde do líder Kim Jong-un tenha surgido como possível justificativa para a ausência de testes de Pyongyang, especialistas acreditam que o silêncio norte-coreano tem outras causas, e é possível que até o fim do ano a Coreia do Norte ponha fim à pausa que estabeleceu – possivelmente contra a vontade do líder.
Uma das teses mais aceitas é a de que Pyongyang está tendo problemas para dominar a tecnologia de mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs, na sigla em inglês). É esta a opinião de An Chan-il, diretor do Instituto Mundial de Estudos da Coreia do Norte.
"Já fazia sentido dizer que a Coreia do Norte manteve um ritmo lento e controlado em suas provocações militares quando [Donald] Trump chegou a Seul junto com três embarcações que se juntaram à atividade naval entre Coreia do Sul e EUA. Agora, parece que Pyongyang quer disparar um ICBM, mas está tendo problemas no domínio da reentrada e de outras tecnologias complicadas", opinou, em entrevista ao jornal sul-coreano Korea Herald.
Kim Dong-yub, professor do Instituto de Estudos do Extremo Oriente da Universidade de Kyungnam, concordou, dizendo: "Problemas técnicos podem ser a causa do atraso do lançamento".
Disputas e manobras
Para outros analistas, é possível que existam outras razões. Foi ventilada a possibilidade de que a ausência de testes esteja ligada a uma luta pelo poder entre militares norte-coreanos e oficiais do Partido dos Trabalhadores do país asiático – algo já relatado no passado, e que gerou expurgos e execuções, ordenadas por Kim.
Uma terceira razão poderia estar vinculada às sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU – que estariam causando sérios problemas a Pyongyang – e ao desejo do governo norte-coreano em iniciar negociações com a comunidade internacional, caso houvesse uma sinalização em favor de demandas do país, como o fim dos exercícios bilaterais na região.
Kim Hyun-wook, professor da Academia Diplomática Nacional da Coreia (KNDA), disse que o líder norte-coreano ainda pode esperar que os EUA e a China ofereçam uma retomada do diálogo, embora ele tenha recusado a receber recentemente o enviado especial do presidente chinês Xi Jinping para Pyongyang, Song Tao.
"As sanções do Conselho de Segurança da ONU aparentemente estão sufocando a Coreia do Norte a um nível sério e o Estado repressivo parece estar se abstendo de provocações para fazer um avanço neste campo", afirmou o professor da KNDA.
O Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um grupo de pesquisa com sede em Washington, destacou em 22 de novembro que existe uma "probabilidade elevada" de atividades de armas de destruição em massa da Coreia do Norte nos próximos 14 a 30 dias. Contudo, dúvidas quanto a isso permanecem.
Fatores extras, como os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Inverno de PyeongChang, que acontecem em 2018, podem fazer com que o governo norte-coreano não realize provocações – fazendo valer o seu discurso de que o único país que está no radar de Pyongyang são os EUA.
Tal decisão também pode ser alterada por dois exercícios militares conjuntos que EUA e Coreia do Sul planejam realizar nas próximas semanas – Seul vem conversando com Washington para adiar as manobras, o que pode ser visto positivamente na Coreia do Norte. Se forem adiante, os exercícios podem estimular o fim do silêncio norte-coreano.