Sem combustível, a aeronave da LaMia caiu a poucos quilômetros da cidade de Medellín, na Colômbia. Ela transportava equipe, comissão técnica e dirigentes da Chapecoense, além de jornalistas e da tripulação, para a final da Copa Sul-Americana. Foram 71 mortos e seis feridos.
Com orçamento modesto e um modelo de gestão exemplar, o time da cidade de 210 mil habitantes do interior de Santa Catarina iria enfrentar um dos gigantes do futebol da América Latina: o Atlético Nacional — o time com mais títulos em toda a Colômbia.
De quem é a LaMia?
Oficialmente, a companhia LaMia é uma empresa boliviana cujos proprietários são Miguel Quiroga e Marco Antonio Rocha Venegas. A LaMia já havia transportado outras equipes, como a seleção da Argentina de futebol.
Miguel era o piloto do avião que caiu na Colômbia e morreu no acidente, já Marco está foragido da justiça.
Com a comoção criada após o acidente, contudo, descobriu-se que a LaMia pode ter sócios ocultos. A imprensa boliviana teve acesso à investigação local que aponta que o ex-senador da Venezuela Ricardo Alberto Albacete e sua filha, Loredana Albacete Di Bartolomé, são os verdadeiros donos da empresa.
O presidente da Associação Brasileira das Vítimas do Acidente com Chapecoense (Abravic), Gabriel Andrade, afirma ter tido acesso à documentos que demonstram a ligação entre LaMia e o ex-senador venezulano.
"Infelizmente, esse fato demonstra ainda mais a obscuridade que paira sobre esse caso", afirmou Andrade em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil.
Seguro e Indenizações
Tanto Andrade quanto Fabienne Belle, presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo da Chapecoense (AFAV-C), concordam que a falta de uma conclusão das investigações dificulta a vida dos familiares das vítimas.
Fabienne é viúva de Luís César Cunha, fisiologista da Chapecoense morto no acidente. Eles eram casados há 22 anos.
Na Colômbia, também não há conclusão para as investigações. A mesma situação se repete na Bolívia.
"Nós estamos aguardando a finalização das investigações para ver quais ações jurídicas serão tomadas", afirmou Fabienne em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil.
A LaMia tinha um contrato com a seguradora Bisa Seguros y Reaseguros no valor de US$ 25 milhões. Todavia, o contrato não oferecia cobertura para acidentes ocorridos na Colômbia e o pagamento das apólices ainda deve levar um "bom tempo", acredita Fabienne.
Diante do impasse, a Bisa ofereceu pagar uma "ajuda humanitária" de US$ 200 mil para os familiares das vítimas, desde que eles abram mão de pleitear na justiça qualquer valor no futuro. A proposta não foi aceita.
A presidente da AFAV-C afirma que cada família recebeu R$ 61 mil da Chapecoense e que há pessoas enfrentando dificuldades.
O Futuro
Para superar a perda dos jogadores do plantel da Chape que morreram no desastre aéreo, os clubes brasileiros se uniram. Foram emprestados jogadores ao clube catarinense e a temporada que começou com o medo do rebaixamento, pode terminar com a ida do time à Libertadores — a competição de clubes mais importante da América Latina.
"Para a Chapecoense, foi um ano muito difícil, a tragédia levou do presidente ao roupeiro, levou 19 jogadores, toda a comissão técnica. Foi preciso com tanta dor, tanto sentimento das pessoas de Chapecó, encontrar uma alternativa", afirmou o narrador esportivo Rafael Henzel, que estava no voo da LaMia e sobreviveu ao acidente.
Henzel acredita que a campanha da Chapecoense em 2017 foi "valorosa": a equipe foi campeã do Campeonato Catarinense e conseguiu a classificação na fase de grupos da Libertadores — mas foi excluída no "tapetão" pela escalação irregular de um jogador.
"Agora, friamente olhando a gente pode dizer que foi um ano sensacional", diz Rafael Henzel.